segunda-feira, 26 de março de 2007

Resenha: Atores Sociais do Mercado da Cultura

NUSSBAUMER, Gisele Marchiori. Atores Sociais do Mercado da Cultura. In: O Mercado da Cultura em Tempos (Pós) Modernos. Santa Maria: Editora da UFSM,2000.

Diversos atores compõem a cena do Mercado da Cultura, dentre eles Gisele Nussbaumer destaca os artistas, os agentes culturais, os patrocinadores, a mídia, o público. Buscando traçar um perfil desses atores sociais são desenvolvidas ao longo do texto reflexões a respeito de como se formou e se estabelece o cenário cultural brasileiro.

Artistas: nem apocalípticos, nem integrados
Mudanças socioeconômicas ocorridas no Brasil a partir dos anos sessenta impulsionaram o proceso de autonomização da produção intelectual e artística. Se por um lado os artistas "alimentaram um mercado da cultura", do outro desenvolveu-se uma mentalidade crítica e conscientizadora que se impõe à mercantilização da cultura.
Diante desse quadro, os artistas precisam se adaptar a demanda de um mercado onde há uma relação de dependências que determina quem terá acesso e em que condições se dará a produção e divulgação da cultura. Para o artista, o reconhecimento e a utilização de seu poder simbólico devem ser fundamentais às relações com o mercado da cultura.
De acordo com Nussbaumer, através do poder simbólico de suas atitudes e obras, gerações de artistas e intelectuais, transformaram o cenário cultural de nosso país. Como exemplo, ela cita movimentos como a Tropicália e o Cinema Novo (60), o contracultural (70) e os punks e o rock nacional (80). Através de movimentos de "gerações em transe" demonstra-se que é possível resistir e contestar aos moldes da sociedade e promover uma reestruturação da produção cultural do país.

Agentes: intermediários da cultura
É dentro dessa lógica onde o artista tem dificuldades em negociar com o mercado da culçtura que surgem e ganham espaço os agentes culturais. Sgundo Nussbaumer, os agentes culturais têm "a função de atuar como intermediários entre artistas, financiadores, mídia e, consequentemente, público consumidor de bens e produtos culturais" e devido ao investimento em cultura na contemporaneidade ser vista de forma mais explícita como negócio exige-se uma profissionalização desse agente.
São inúmeros os profissionais que vêm colocando seus serviços no mercado para atender tanto aos artistas como às empresas que investem em patrocínio e projetos culturais próprios. A autora destaca a figura dos marchands de arte (uma categoria já institucionalizada no mercado da cultura que além de administrar e manter sua própria clientela, confere valor honorífico a cada autor e os preços de mercado de sua obra); os profissionais de relações públicas que atuam como agentes culturais da iniciativa privada buscando incentivar o patrocínio de projetos culturais visando o retorno da imagem para a empresa (marketing cultural). Essas duas áreas de atuação são alvo de reflexão, os marchands por se preocuparem mais com os lucros do que com a arte em si e, os relações públicas pela necessidade de busca de ações relevantes a favor da cultura o que exige uma ação continuada de investimento no setor, com intenções claras e projetos concretos.

Patrocinadores: cultura traz prestígio
Como um instrumento de comunicação diferenciado e convincente, o marketing cultural é um investimento que não traz lucros diretos e imediatos, oretorno para a iniciativa privada é confirmado e reforçado pela mídia em termos de melhoria de imagem ou até mesmo na promoção direta dos produtos da empresa.
Para Nussbaumer, !seja com apoio, patrocínio ou projetos próprios, o investimento no setor das artes e da cultural já faz parte do planejamento de comunicação da iniciativa privada, tornou-se uma forma simpática de atrair a atenção dos consumidores e público em geral.". Ela destaca ainda que os projetos culturais são considerados a melhor forma de investimento em cultura, várias empresas têm utilizado esse instrumento para criar vínculo entre a marca do produto e um evento dirigido ao público deste produto.

Mídia: meio ou fim
A mídia atua no mercado da cultura como determinante para o consumo ou não de um produto cultural pelo grande público. Seu poder de influência, como afirma Gisele Nussbaumer, "pode ser responsável pelo sucesso ou não de determinado produto cultural ao lhe acenar (ou não) com a possibilidade de seu conhecimento e reconhecimento pelo público". Assim, para os artistas além de obter espaço na mídia é importante também a boa aceitação de sua obra pela crítica especializada.
A necessidade e a impotância de obtenção de espaço na mídia e/ou respaldo da crítica leva-nos, segundo a autora, a discussão da função da crítica tanto sob o ponto de vista de sua competência quanto do seu poder ou autoridade no mercado cultural.

Um olhar para a cultura do município


Na sexta-feira, dia 9 de março, os alunos da disciplina receberam Edvaldo Bolagi, assessor da Fundação Gregório de Mattos e administrador da Casa do Bebin para entender a Política Cultural do Município.

Bolagi relatou a situação de abandono encontrada quando assumiram a Fundação Gregório de Mattos. Não haviam registros sobre as ações passadas e equipamentos como Biblioteca Edgard Santos, Biblioteca do Curuzu, o Teatro Gregório de Mattos e a Casa do Benin estavam fechados ou em estágio de má conservação.

Por essa falta de histórico, o primeiro ano serviu para elaboração das diretrizes que seriam adotadas para a área cultural do município. Tendo a Secretaria Municipal de Educação e Cultura voltada principalmente para as ações da educação, a Fundação Gregório de Mattos acaba por assumir as atividades de fomento à cultura.

Com início do 3° ano da gestão de Paulo Lima à frente da Fundação, as políticas culturais dessa instituição aparecem muito claramente. Uma preocupação em capilarizar as ações na cidade através da busca de significativos representantes da cultura popular. “Existem mestres responsáveis por ações culturais na cidade dos quais nem temos conhecimento”, aponta Bolagi. Dar visibilidade e reconhecimento a esses homens e mulheres responsáveis pela formação cultural de milhares de jovens é o objetivo do projeto “Mestres populares da cultura”. 7 projetos já foram contemplados e agora mais 9 bairros entram para a lista dos que receberão R$ 30 mil reais para fomentar as ações de homenagem a seus mestres.

A Fundação conta ainda com o projeto Pontão de Cultura, que integra o Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura. O Pontão é o espaço de articulação entre os Pontos de Cultura, visa agregar agentes culturais para articular e impulsionar um conjunto de atividades em suas respectivas comunidades.

Devido a eterna falta de verba suficiente para a área cultural e a atual crise financeira enfrentada pela Prefeitura Municipal, a Fundação buscou financiamentos externos e parcerias como essa entre o MinC. Com a mudança de governo estadual, a Fundação vislumbra parcerias e ações conjuntas entre a União, o Estado e o Município.

Seguindo o princípio de irradiação da ação cultural municipal, que norteia os projetos da Fundação, foi criado o site Avisa Lá, onde é divulgada as ações culturais dos bairros, são coletados dados sobre a memória das comunidades e pretende articular os diferentes atores culturais do município.

O lançamento do site ocorreu dentro das diversas ações da Agenda Viva Salvador, comemorando os 458 da cidade.

domingo, 25 de março de 2007

Políticas públicas de cultura – uma abordagem transversal

No texto Políticas públicas de cultura – uma abordagem transversal, de Ana Carla Fonseca Reis, verificamos os principais objetivos atribuídos à política pública de cultura, contemplando suas questões econômicas e simbólicas.
O conceito de política cultural foi introduzido pela Unesco em 1969 após propor aos governos o reconhecimento explícito das ações culturais como intrínsecas às suas políticas públicas. De acordo com o Dicionário Crítico de Política Cultural de Teixeira Coelho, política cultural é definida como “um programa de intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis, entidades privadas ou grupo comunitários com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da população e promover o desenvolvimento de suas representações simbólicas. Apresenta-se como um conjunto de iniciativas tomadas por estes agentes, visando promover a produção, a distribuição e o uso da cultura, a preservação e a divulgação do patrimônio histórico e o ordenamento do aparelho burocrático por elas responsável”.
Política pública de cultura deixa de ser sinônimo de política governamental, ultrapassando os limites da pasta de cultura do governo, envolvendo o setor privado e a sociedade civil (terceiro setor, universidades, centros de debate), combinando as perspectivas de diferentes atores sociais.
Os objetivos dessas políticas podem apresentar características como, por exemplo, a formação de uma identidade regional ou nacional; a promoção da diversidade cultural e da democracia de acesso cultural; o potencial da cultura como fator de inclusão socioeconômica, de atração do turismo, do fomento ao fluxo de informações e a construção da consciência individual, etc.
Mas antes mesmo de aprofundarmos em cada um destes objetivos, reforçaremos um outro conceito importante, o de transversalidade da cultura. Esse conceito remete à onipresença da cultura na integração das políticas públicas, requisito básico à promoção do desenvolvimento sustentável. O primeiro passo para o reconhecimento dessa transversalidade exige a conscientização do próprio setor cultural, para que se possa então promover sua incorporação na pauta de prioridades das outras pastas governamentais. Para o Ministro da Cultura, Giberto Gil, “a tarefa do MinC é formular e executar políticas públicas de cultura, articuladas e democráticas, que promovam a inclusão social e o desenvolvimento econômico e consagrem a pluralidade que nos singulariza entre as nações e que singulariza, na nação, as comunidades que a compõem”.

OBJETIVOS DE POLÍTICA PÚBLICA

Analisaremos os objetivos da política cultural mais freqüentes e relevantes: diversidade cultural; democracia cultural e inclusão; cultura e identidades; regeneração geográfica e qualidade de vida; cultura e imagem nacional. Observaremos a interdependência de cada um deles com outras políticas públicas, como a econômica, social, educacional, do turismo e das relações exteriores.

1. DIVERSIDADE CULTURAL

“Nenhuma cultura poderá viver se tentar ser exclusiva” (Mohandas Gandhi)

. O conceito de diversidade cultural como o entendemos hoje parece ter suas origens na crítica do monopólio da mídia, após a segunda guerra mundial. No que concerne o delineamento da política cultural, a diversidade deve ser considerada em dois eixos:
- nacionalmente, defendendo a coexistência das diferentes culturas de um mesmo país e promovendo sua sustentabilidade;
- internacionalmente, preservando a cultura nacional diante da ameaça de uma hegemonia cultural global e capacitando-a para participar de fluxos de idéias e comércio de produtos e serviços culturais mundiais.

1.1 DIVERSIDADE CULTURAL NACIONAL

. No Brasil, embora não tenhamos divergências sociais, religiosas ou étnicas e estejamos unidos por uma mesma língua e um substrato cultural comum, somos fruto e adaptação de uma rica combinação de culturas. Essas raízes profundas contribuíram para a criação de um imenso repertório de manifestações, produtos e serviços culturais, distintos entre si, mas igualmente brasileiros.
. Um dos grandes desafios da diversidade cultural nacional é garantir o acesso ao mercado também às nossas minorias, possibilitando sua difusão e sustentabilidade econômica, além de sua interação social com as outras culturas nacionais, sem prejuízo de sua identidade.
. Definir a diversidade como objeto de política cultural significa promover ao mesmo patamar de relevância o forró e a música de câmara, o tacacá e o churrasco, o artesanato de feirinha do bairro e o que se encontra nos centros comerciais refinados. Nossa identidade é essencialmente plural.
. Somando-se à preservação da diversidade estão à garantia de liberdade de expressão e a capacidade de transformar essa expressão em um produto acessível aos outros.
. A questão crucial vai mais além da existência de diversidade de expressões comerciais e exige que sejam criados espaços também para os produtos não comercializáveis.

1.2 DIVERSIDADE CULTURAL EM UM CONTEXTO INTERNACIONAL

. O Relatório do Desenvolvimento Humano de 2004 da Unesco expõem que é possível a coexistência entre unidade e diversidade. Para isso, é preciso que os paises assumam ativamente seu papel de guardiões e promotores da cultura ou das culturas nacionais.
. É fácil visualizar a necessidade dos produtos e serviços culturais com alto apelo comercial. A situação é bem diferente e bem mais delicada e intangível quando se trata de respeitar e reconhecer os direitos morais e financeiros dos mestres de ofícios e de comunidades tradicionais.
. Sem uma política que envolva os aspectos econômico, social e de desenvolvimento, a diversidade dissipa-se rapidamente, sob o metralhar dos orçamentos vultosos que atingem o comércio internacional de serviços e produtos culturais.

2. DEMOCRACIA CULTURAL E INCLUSAO

. Enquanto a democratização não questionava a cultura erudita, mas somente a desigualdade de sua repartição, a democracia cultural contesta a prevalência da cultura dita de elite.
. Diversidade e democracia cultural são conceitos complementares. Enquanto a diversidade defende a possibilidade de criação e expressão das mais diversas culturas em pé de igualdade, a democracia cultural prega que todos têm o direito de acesso às mais diversas manifestações culturais. A diversidade cultural contempla a existência de uma pluralidade de culturas, em oposição a uma cultura monolítica; a democracia cultural pressupõe a existência de não apenas um, mas vários públicos – permitir-lhes conhecer todo o repertório possível, e com isso, ampliar suas opções de escolha.

2.1INCLUSAO DIGITAL

. Um dos maiores canais d acesso às manifestações culturais são as mídias digitais. As novas mídias são grandes facilitadoras, enquanto abrem novas formas de acesso à produção e aos mercados.
. A necessidade de reduzir o abismo de exclusão digital não é exclusiva de países em desenvolvimento, embora seja mais acentuada neste grupo.
. No Brasil, a Pesquisa Internet POP, realizada pelo Ibope Mídia publicada em 2005 registrou um aumento no uso da Internet pelas classes D e E (de 7% computados no ano anterior para 11%). Esse percentual é ainda assustadoramente baixo, mas algumas medidas importantes permitiriam impulsionar seu crescimento. Uma das principais é acelerar a política de franquear acesso à Internet na escola, nas instituições públicas e nos Pontos de Cultura. Outra seria o barateamento dos computadores habilitados para conexão com Internet, por exemplo.
. É importante considerar, ainda, o papel potencial dos telefones celulares para promover a inclusão digital.

3. CULTURA E IDENTIDADES – A PERCEPÇAO DE SI MESMO E DO OUTRO


. A identidade é a base e a essência de quem somos. É aquilo que nos faz reconhecer a nós mesmos no espelho e através dos olhos dos outros.
. Conforme Eagleton, na medida em que se forma o Estado-Nação moderno, a estrutura de papéis tradicionais já não pode manter a sociedade unida, e é a cultura compartilhada através da linguagem, da herança, do sistema educacional, dos valores que forma a unidade social. O maior símbolo dessa identidade é a cultura.
. Uma das formas de reforçar a identidade nacional é traduzir a cultura em imagens, e fazer delas nossas embaixadoras é um modo de fazer-nos conhecer como somos, sem estereótipos marcados.
. Tão importante quanto reconhecer o direito à identidade é admitir a convivência de múltiplas identidades em cada um de nós.
. Um dos objetivos básicos da política cultural deve ser o de reforçar a identidade cultural, colocando em perspectiva as influências de outras culturas. Que se adicionem à nossa, sim; que tentem substituí-la, jamais.

4. REGENERAÇAO GEOGRÁFICA E QUALIDADE DE VIDA

. Um dos grandes pilares da política pública apresenta dupla face de regeneração geográfica e elevação da qualidade de vida da região. São vários os exemplos de investimento em cultura como agente recuperador, unindo os aspectos cultural, econômico e social e contribuindo com isso, para a vida comunitária e a solução dos problemas socioeconômicos.
. Nacionalmente, temos o exemplo do Programa Monumenta, que promove o desenvolvimento socioeconômico por meio da erradicação das causas da degeneração do patrimônio cultural de dezenas de cidades brasileiras. Gera-se com isso, um conjunto de benefícios que se apóiam e se reforçam.
. Com relação às economias locais, os efeitos positivos vão além da geração de impostos, empregos e cifras de comércio, compreendendo também a fixação da população, antes migradora por falta de escolha. O benefícios econômicos são insubstituíveis. Integral este rol: a elevação da auto-estima, o incremento da qualidade de vida, o reforço da coesão social, a consolidação das parcerias público-privadas e a afirmação da imagem local.

5. CULTURA E IMAGEM NACIONAL

. Brasil do carnaval, Buenos Aires do tango, Caribe da salsa e merengue. Poucas expressões de um povo transmitem uma imagem mais forte do que as veiculadas por sua cultura.
. A imagem de um país no exterior impacta não somente em como os cidadãos, produtos e serviços desse país são recebidos fora, mas também em sua capacidade para atrair investimentos e turistas de negócios e lazer. A imagem e os estereótipos que as empresas e turistas levam consigo direcionam o modo como se relacionam com o país receptor.
. A importância da imagem do país e os fatores que influenciam são expressos pelo National Brand Index. Os fatores de construção do índice de um país são as percepções das pessoas acerca de seus ativos culturais, políticos, comerciais e humanos. No caso do Brasil, os dois maiores fatores de atração do país residem, segundo a pesquisa, em “pessoas” e “cultura e patrimônio”.

5.1 DIPLOMACIA CULTURAL

. O conceito de diplomacia cultural tem como princípio a troca de informações e manifestações culturais entre países e povos, buscando promover a compreensão mútua e a construção da imagem das nações em função do que lhes interessa comunicar. Também ode ser considerado um eficaz instrumento complementar à estratégia econômica.
. Vários países passaram a utilizar a diplomacia cultural para promover seus produtos comerciais, abrir e desenvolver mercados e fomentar exportações e negociações em termos privilegiados.
. No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores tem dado mostras pontuais de integração entre os esforços de diplomacia cultural e estratégia comercial do país, a exemplo de sua participação no Ano do Brasil na França, em 2005, e na Copa da Cultura na Alemanha, em 2006.
. A busca por uma maior integração entre política cultural e relações exteriores, envolvendo também outras instituições governamentais e privadas, produziu na mesma feita o anuncio de novos programas voltados à divulgação e exportação de produtos culturais nas áreas de cinema, televisão e música.

5.2 ORGANIZAÇOES CULTURAIS NO EXTERIOR

. Paralelamente aos esforços do corpo diplomático, vários países investem em organizações que buscam promover relações culturais no exterior, frequentemente estendendo-se ao ensino da língua do país de origem. Dentre elas destacam-se o Goethe Institut, o British Council e a Alliance Française.
. A magnitude dos recursos direcionados a programas e instituições culturais no exterior revela a prioridade que lhes é dada. Por exemplo, os 43 Institutos Cervantes (cultura Espanhola) receberam em 2004 um orçamento de 60 milhões de euros; já a França investe mais de 1 bilhão de euros anualmente em um conjunto de atividades diplomáticas, distribuídas entre cerca de 650 embaixadas, consulados, representações diplomáticas e 166 centros culturais. Além disso, oferece apoio financeiro às cerca de oitocentas Alliances Françaises atuantes em mais de 130 países.

sábado, 24 de março de 2007

Ciclo de Debates sobre Políticas Públicas

O segundo dia do Ciclo de Debates sobre Políticas Públicas abordou as perspectivas de formação, integração e desenvolvimento da cultura na Bahia. Cândida Almeida, do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT), abriu a noite falando da nova conjuntura política que se estabelece com o governo de Jaques Wagner, e afirmou a importância de existirem debates sobre a cultura na Bahia, pra se pensar a conjuntura desta no âmbito local.

Dando inicio ao debate, Ângela Andrade, superintendente de formação e integração regional, apresentou a nova proposta da Secretaria de Cultura (Secult) que tem como objetivo a formulação de uma nova cultura política e de uma nova política cultural. Com a mudança organizacional da secretaria, a cultura passa a estar desatrelada do turismo, uma vez que dentro da nova proposta passa a estar mais ligada ao regional.



Com a missão de “Atuar de forma integrada e em articulação com a sociedade, na formulação e implementação de políticas publicas que reconheçam e valorizem a diversidade cultural da Bahia, nas dimensões simbólicas, estratégicas e econômicas” a secretaria traz cinco idéias força:



Descentralização: as ações da secretaria devem ocorrer em todo o Estado, a partir da criação de pólos regionais de cultura;


Democratização: abertura para o diálogo em relação à formulação de políticas públicas;

Integração: ações integradas em todo o território;

Diversidade: apoio às diversas manifestações culturais;

Transversalidade: ação conjunta com outras secretarias.

Inicialmente a Secult busca estabelecer uma interlocução com todos os envolvidos na área, através da criação de câmaras especificas de cultura e do fomento a qualificação e formação de gestores culturais. Para atender a tais objetivos, passa a ser dividida em duas diretorias: A Diretoria de Integração Regional da Cultura e a Diretoria de Projetos para o Desenvolvimento da Cultura. A primeira diretoria busca estabelecer a interlocução com os agentes de todo o Estado, através da realização de eventos que visem subsidiar a formulação de políticas públicas de cultura, além de coordenar a atualização do censo cultural. Na tentativa de integrar o poder publico no âmbito Estadual, Regional e Municipal, gerando uma sinergia entre os segmentos, as organizações e instituições da cultura, a secretaria vai realizar a segunda Conferência Estadual de Cultura (31/05 a 2/06), que tem como objetivo pensar o desenvolvimento da cultura na Bahia nos vários níveis de poder, tendo uma expectativa de 800 participantes.

Já a Diretoria de Projetos para o Desenvolvimento da Cultura vai atuar em conjunto com outras secretarias visando promover o desenvolvimento regional, através da identificação dos centros de excelência em formação cultural (como o CULT) e da qualificação dos agentes culturais a partir de uma parceria com a Universidade Estadual da Bahia.

Na segunda parte do debate Paulo Henrique Almeida, superintendente de Cultura e Desenvolvimento Sócio-Econômico, falou de uma possível mudança no nome da Secult para Secretaria de Cultura e Desenvolvimento Econômico uma vez que a cultura é uma forma de capital baseada do intangível e está diretamente ligada a economia, especialmente no atual panorama econômico e social que vivemos. Com as novas formas de produção, com as novas linguagens e com a conexão em rede a economia da cultura tende a se expandir e é preciso garantir o acesso aos meios de produção e aos bens culturais.

Paulo falou também da importância da secretaria avançar nas áreas da cultura digital, da pesquisa e da informação, além de deixar de ser apenas gestora do Faz Cultura e do Fundo de Cultura, atraindo novos financiamentos. É preciso que seja feita uma reformulação dessas políticas, pois elas estavam concentradas tanto do ponto de vista territorial – quase todos os projetos aconteceram na capital – e nos proponentes – 90% eram de Salvador. Inicialmente serão feitas mudanças no regulamento e nos critérios de seleção dos projetos, visando diminuir essa disparidade.

quinta-feira, 22 de março de 2007

SEMINÁRIO SOBRE PRODUÇÃO DE MÚSICA ELETRÔNICA EM SALVADOR



O seminário ocorrido no dia 16/03 no auditório da Facom foi iniciado pela apresentação de Priscylla Mesquita. Ela é produtora do Skol D+, bloco que surgiu a partir de uma necessidade da Skol de patrocinar algum produto deste porte no carnaval de Salvador.
Priscylla começou falando de seu começo com a música eletrônica, ela tem um grupo chamado Abduzidos Equisy Trance que já produziu diversos eventos do segmento como as festas Supernova, Enigma entre outras. Este é o seu trabalho independente e através deste cenário eletrônico ao qual estava inserida ela entrou para a produção do Bloco Skol D+ da Central do Carnaval.
O Bloco Skol D+ tem a mistura de ritmos como um dos pontos importantes na construção de sua identidade. Eles buscam inovar no carnaval, trazer novos públicos, diversificar, além do axé o bloco já apostou no funk carioca, reggae e em 2006 e 2007 trouxeram para o carnaval de Salvador Fatboy Slim, um dos Djs mais famosos do mundo.
Priscylla explicou o funcionamento do bloco, falou da importância de uma equipe bem estruturada para fazer uma rave andante. Eles se preocupam com a corda, a logística, o carro de apoio, o banheiro do carro de apoio, a iluminação (já que o trio vira uma boate), o som, o design do trio (este ano foi uma lata de Skol). Durante o percurso há uma equipe na frente do bloco, outra no fundo, no lado esquerdo e no lado direito, cuidando para que tudo esteja correndo bem, existe também o suporte de divulgação o Bloco Skol conta com assessoria de imprensa e com uma equipe de programação visual. A Central do Carnaval possui 2 pessoas com dedicação total ao bloco, a própria Priscylla juntamente com Alice Coelho, a equipe de produção é composta por 8 pessoas e no carnaval este número sobe para 15.
Este ano ainda houve a demanda maior na produção devido a gravação do DVD do Fatboy no carnaval, que foi organizado por uma equipe de São Paulo, mas foi viabilizado pela produção do Skol D+.
No dia do seminário, o bloco estava no seu momento pós-venda, na prestação de contas, feedback para Skol e análise do planejamento.
O Bloco irá sair no carnaval de 2008, mas suas atrações não estão definidas. O planejamento, segundo Priscylla, irá começar esta semana com avaliação dos pontos positivos do carnaval passado, da parte técnica, do posicionamento e exposição da marca, das ações de publicidade e partir disto começar a formar o Bloco Skol de 2008.
Depois da sua fala, Priscylla passou um vídeo institucional do Bloco no carnaval de 2007.

Shau produtora da Soononmoon deu inicio a sua apresentação fazendo um breve histórico da Soononmoon, iniciativa de produção de eventos ligados a música eletrônica que já comemora 10 anos, esse projeto começou a partir da percepção de um grupo para a tendência mundial da música eletrônica, já que eles objetivavam diferenciar a cena de eventos de Salvador só ligados ao Axé e ao Rock. Shau frisou muito a questão da persistência, já que houve fracassos, o grupo continuou acreditando e investindo e hoje a Soononmoon é uma das grandes responsáveis pela cena eletrônica em Salvador.
O grupo trabalha com a produção de festas eletrônicas sem patrocinadores, e é composto por uma equipe base de 5 pessoas e com 15 a 20 pessoas de suporte. Eles possuem 7 Djs (incluindo Dj Nazca, conhecido na cena eletrônica atual de Salvador) e 3 Vjs (pessoas responsáveis pela projeções das imagens nos telões durante a música). A Soononmoon funciona através de reuniões freqüentes, que realizam o planejamento das ações. Existe a divisão dos setores, como a pessoa responsável pela web, pelo design e etc.Todos os integrantes exercem outras atividades, não dedicação exclusiva a Soononmoon.
Na produção de um evento da Soononmoon há a preocupação com o local, o som, a luz, as imagens o cheiro, segundo Shau, existe uma tentativa de provocar uma experiência sensorial nas pessoas, proporcionada também pela música eletrônica que sem refrão estimula a “viagem”.
Shau colocou a dificuldade de achar um local propicio para realizar os eventos, devido a altura do som e da necessidade de um ambiente natural. Em uma rave é necessário fazer uma grande sinalização para o local (normalmente de difícil acesso), divulgar mapas e disponibilizar transportes alternativos,há também uma preocupação da produção com a segurança do público, existem ações com a prefeitura nestas festas acionada para proporcionar segurança das pessoas. Ela falou também da estrutura das festas, primeiramente acontece à concepção da organização e decoração, é necessário mais ou menos uma semana para montagem, já que se monta uma festa em um lugar que não oferece estrutura prévia nenhuma para isso. Eles montam a decoração, iluminação, telões, potaria, uma cobertura para o local, 2 ambientes (com pista principal e lounge para relaxamento), área para camping, colocam gerador e fazem festas de longa duração.
Shau abordou a questão das drogas nestas festas, em que a Soononmoon busca coibir o tráfico, educar o uso e dispor de serviço médico. A maior festa realizada pelo grupo foi a Pulsar que contou com um público de 2.800 pessoas.
Site: www.soononmoon.org

segunda-feira, 19 de março de 2007

Primeiro dia do II Ciclo de Debates em Políticas Culturais



Com o objetivo de colocar em discussão as políticas culturais da Bahia e de traçar perspectivas para o futuro do Estado, o II Ciclo de Debates sobre Políticas Culturais proporcionou um momento de diálogo entre a sociedade civil e aqueles que estarão à frente desse projeto nos próximos anos, os representantes da nova liderança governamental. A conjuntura política atual foi um dos pontos mais destacados, uma vez que a Bahia se encontrava há 16 anos sob o comando de um mesmo grupo político, além do fato de que atualmente há o encadeamento da liderança partidária nacional e estadual. A mesa de abertura do evento foi formada por Naomar Monteiro, reitor da UFBA, Giovandro Ferreira, diretor da Faculdade de Comunicação, Albino Rubin, Professor da Faculdade de Comunicação e Paulo Alves. Já os convidados do debate foram Juca Ferreira, secretário executivo do Ministério da Cultura, e Márcio Meireles, recém empossado Secretário da Cultura da Bahia.



Para falar sobre a necessidade de um desenvolvimento cultural amplo, Juca Ferreira, abordou o conceito de cultura no seu sentido antropológico. Assim sendo, o projeto do governo não é o de apenas distribuir verbas para agentes culturais do mercado, mas, enxergando a cultura como necessidade, tentar atingi-la nas suas mais diversas manifestações. Segundo ele, foi essencial para o governo conceber cultura como necessidade do ser humano, pois assim se buscou tratá-la em sua três dimensões, como fato simbólico, como direito e cidadania e como economia.



Juca Ferreira também apontou algumas estratégias que devem ser implantadas, como o fortalecimento das tv´s públicas numa dimensão cultural e educativa, o apoio a museus públicos e privados e a implementação do ticket cultural como uma espécie de “alimento da subjetividade”. O convidado encerrou sua fala afirmando que pretende não partidarizar o ministério para que se alcance uma iniciativa fundamental para o País, a formação de um Sistema Nacional de Cultura.



O segundo convidado para o debate da noite, Márcio Meireles, ressalta inicialmente sobre a carga simbólica que a Bahia carrega, pois, para ele, vigora no estado uma espécie de “cultura de cultura”, que dificulta em certo grau as transformações. No entanto, ele vislumbra formar uma secretaria da cultura que não se restrinja a atender demandas, mas que seja também demandante. Para isso, ele busca contar com a participação da sociedade civil e, principalmente, de artista e produtores.



O plano da secretaria então é se tornar um órgão realmente do estado, atingindo todos os seus 417 municípios, tornando suas medidas descentralizadas. A fundação Gregório de Matos, por exemplo, deverá assumir as responsabilidades pelas iniciativas tomadas para Salvador, para que assim a secretaria cuide do estado em sua amplitude. Márcio Meireles diz que deseja criar mecanismos de mercado que viabilizem o crescimento da cultura popular, uma vez que esta persiste a favor ou contra a vontade do governo.



Após um longo debate entre os convidados e os participantes se encerrou o primeiro dia do “II Ciclo de Debates sobre Políticas Culturais”, onde vimos temas como: a situação atual das políticas culturais na Bahia; as perspectivas destas neste novo governo; o entendimento de cultura pelo estado; cultura e economia da cultura; políticas de financiamento da cultura e leis de incentivo, dentre outros temas que têm perpassado os pensamentos daqueles que estão envolvidos com a área.