quinta-feira, 5 de julho de 2007

RESENHA ENECULT III MESA FINAL

Enecult III (mesa final) - Balanço final do Enecult
Ocorrida no dia 25 de maio de 2007 às 17hs no auditório da FACOM
Tema: A Institucionalização da área da cultura: Estudos e gestão
Componentes: Mario Mazzili (Brasil)
Isaura Botelho (Brasil)
Albino Rubim (Brasil)

Por: Daniel Mendes

Mario Mazzili

Representante do Itaú cultural resumindo-se basicamente em apresentar para o publico composto por professores, estudantes de comunicação de diversas regiões do país e por interessados no tema as idéias e o andamento do observatório cultural criado pela instituição. Exaltou os 20 anos do Itaú cultural, falando do surgimento dessa estância, o observatório, na USP que iniciou uma “ponte” entre a universidade e as instituições para colaboração na elaboração de políticas publicas para a cultura. Ele também expõe a linha de raciocínio do observatório que é, em primeiro lugar, elaborar estudos para a cultura seguida de uma difusão dos trabalhos produzidos e apoiados, ou seja, uma política de publitização, como por exemplo, a distribuição de revistas – 3 edições para esse ano podendo ser 4 edições no ano que vem – em locais como prefeituras municipais e nas instituições. Conclui sua participação na mesa falando da inauguração do site, onde terá a revista além de artigos e informações sobre o observatório, que fechou um acordo com a USP e a UNESCO para receber pesquisadores internacionais e fomentar a criação de cursos na área da produção cultural.

Isaura Botelho

Partiu do tema citando exemplos internacionais já existentes como o “circle” na França que organiza seminários e facilita a disseminação da produção cultural e o “cultura em link” da UNESCO, além de outros exemplos que buscam como objetivo maior a criação de um instituto de pesquisa permanente, porém, a palestrante não da foco a área da pesquisa e gestão – que era a proposta do tema – se resumindo a focar o fato do Brasil ainda não apresentar uma fisionomia definida nesse setor da cultura. No final da sua participação, após ter sido lembrada pelo colega de mesa Albino, Isaura parte para a proposta do tema dando uma observação importante: é fato que nenhum dos órgãos citados por ela nesse debate planejam a cultura ou a vida cultural. O objetivo desses campos de pesquisas é o de estimular o desenvolvimento de ferramentas nas instituições para a produção cultural. Lembrando que a UFBA é vanguarda na criação de centros de pesquisas em diversos campos das ciências humanas e com o enecult. Concluindo e resumindo sua idéia dizendo que esses campos vêm para estimular os poderes públicos a colaborarem de forma permanente nos setores de pesquisa na área cultural sendo a universidade a principal responsável em criar um ambiente multidisciplinar na área da cultura.



Albino Rubim

Antes de entrar no tema, ele fala sobre a cultura afirmando que ela é uma troca e um intercambio para a ampliação da discussão cultural. Apresentando idéias para essa ampliação, como a criação de formas de interação e a busca de uma consolidação de um campo amplo e generoso na área da cultura. Afirmando também que a comunicação é uma área ambígua, pois compõe o jornalismo e áreas das artes que interagem como campo da cultura. Justificando que os estudos da cultura ocorrem mais nos setores da comunicação. Expondo também uma pesquisa em que alunos que decidem cursar comunicação estão divididos em 1/3 para os que querem jornalismo, 1/3 para os que querem cinema e vídeo (área audiovisual) e 1/3 para os que querem a área da cultura e das artes. Entrando no tema, Albino primeiro cita a FACOM como exemplo devido a já existência de um centro de pesquisa na área da cultura – multidisciplinar – e também a existência de um centro de pós-graduação. A partir daí, foca a institucionalização da cultura apresentando as suas dificuldades de realização: primeiro seria a definição do conceito de cultura, pois esse conceito tem se modificado constantemente. Afirmando que esse termo – cultura – tem múltiplos sentidos. Segundo seria a delimitação de um campo cultural para a área da cultura. Depois ele parte para falar de movimentos históricos na área da cultura: primeiro falando da crise da política no séc.xx, gerando uma “culturalização da política”, ampliando a temática cultural como, por exemplo: mulher, meio ambiente, direitos sexuais, religiosidade e direitos culturais. Depois fala de outro movimento histórico importante que foi a “culturalização da mercadoria”. Bens materiais adquirem valor – bens materializados – forte significação desses bens – impregnação de sentidos. Afirmando que no mundo cada vez mais ocorre a ampliação do campo da cultura. O tema cultura é colocado na agenda publica nacional e global – muitos países participaram de diversos debates culturais levando os EUA a tentar interferir nessa área que para eles era muito caro. A partir da apresentação da noticia sobre a presença de uma convenção universal sobre diversidade cultural onde ocorrem debates sobre políticas publicas, Albino entra no tema da gestão cultural e os seus vários patamares e suas conexões: Globalização, plano nacional, plano supranacional (como a UNESCO) e também em outros patamares (governos locais). Dando ênfase ao protagonismo das cidades nas gestões culturais. Afirmando que elas hoje se ocupam de series de tarefas que antes eram feitas pelo estado. Exemplo: relações internacionais e também no campo da cultura, denunciando a existência de problemas governamentais e de fluxos da produção cultural. Depois, Albino fala dos desafios específicos aos estudos de cultura. Apontando duas ordens: 1) o desenvolvimento do conhecimento disciplinar deixou de ser capaz de dar conta da complexidade da realidade e fez surgir então campos multidisciplinares para dar conta dessa complexidade. 2) a segunda ordem é como criar uma institucionalização? Respondendo ele próprio que tem que haver uma leveza e uma flexibilidade para interagir e respeitar esse caráter especifico da cultura – multidisciplinar – sendo diferente das outras formas de institucionalização já ocorridas.

Final do Debate

Os palestrantes voltam-se para o publico na tentativa de estimular uma reflexão de todos sobre o tema. Expondo as suas expectativas para o assunto debatido. Resumindo que “a institucionalização da cultura” é criar canais para financiar uma melhor gestão da vida cultural. Buscando encontrar as lacunas e procurando as prioridades na área. Apoiando a legitimação de um campo de pesquisa e estimulando a universidade para ela ser o grande centro interlocutor entre os apoiadores e os centros de pesquisa.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Resenha sobre o vídeo
“Da boca pro palco”


O vídeo é um relato de pessoas que de alguma possuem ligação com a produção cultural, seja como produtor, artista ou mesmo atuando nos dois papeis. É importante ressaltar que é um vídeo do ano 2000 e que, portanto, muitas das declarações, que poderiam naquela época soarem como inovadoras, hoje são completamente corriqueiras. Dentre estas falas destaquei, por apresentar pontos interessantes que algumas vezes alimentam certo debate e outras reafirmam o que é repetido incessantemente na faculdade, são as falas de Ivana Souto ( produtora), Rogério Duarte ( professor e designer) e Messias Bandeira ( músico).

Ivana faz considerações acerca da produção cultural enquanto profissão, ressaltando a importância de pensá-la amplamente e a importância do produtor especializar-se e atualizar-se sempre, afirmando que não é possível conceber a produção de qualquer produto cultural sem planejamento, ou seja, sem pensar na pré – produção, na produção e na pos pós - produção.

“É o cara que é afinado com um determinado espírito da cultura e a partir disso se torna produtor. . . em geral é o cara que tem paixão por uma determinada coisa” , essa é a primeira frase de Rogério Duarte e me chamou atenção, primeiro por ir na direção contrária da fala de Ivana e não só por isso, mas especialmente, porque parece no mínimo igênuo. Primeiro, mesmo concordando que pessoas são produtores por amor a algum segmento cultural, não posso pensar que somente esse é produtor, em especial porque se assim fosse, o que justificaria um curso de graduação em Comunicação e Produção Cultural? Ou mesmo como justificar, o fato de que o próprio Rogério Duarte é professor de produção cultural? Aceitar esse argumento seria o mesmo que negar–se. Mesmo naquele tempo o campo já havia se especializado e hoje é inviável pensar a produção de forma amadora e apenas como um hobby de pessoas que são apaixonadas pela arte.

Duarte, nega a dicotomia artistas versus produtores, afirmando que não há razão para sua existência . Na prática não é o que se vê, pois a maioria dos artistas não sabem como lidar com o mundo da produção ou aprendem sobre “duras penas”, e isso pode ser comprovado no próprio vídeo com a fala de Edvaldo Bolagi, quando testemunha sobre as dificuldades para colocar em cena um determinado espetáculo e as dificuldades enfrentadas pelos artistas que montavam o cenário, equipamentos e também como a falta de “tato” com a produção, levou o espetáculo a concluir a montagem no vermelho.

Outro importante trecho do texto é a fala do músico Messias Bandeira, desse discurso destaquei um questionamento sobre as responsabilidades sobre o modo de se produzir cultura Estado, artistas ou iniciativa privada, a quem cabe a função de gerenciar o processo. Ele não expressa uma opinião e por vezes se mostra indeciso. No entanto, considero que os três âmbitos são importantes para o processo, mas cabe ao Estado o papel de gerenciador e regulamentador deste processo, através da criação de mecanismos que incitem o desenvolvimento de produções e da implantação de políticas públicas amplas.

No geral não gostei do vídeo, primeiro porque não trouxe nada de novo e segundo porque a produção não era das melhores. Os enquadramentos, os ângulos e também algumas falas eram desnecessárias se alguns convidados fossem mais explorados. Por exemplo, José de Alencar, Carlinho Cor das Águas, Paulo Henrique, em fim, ou terem através de questionamentos puxar mais informações destes, ou então buscar essas informações de o Rogério, a Ivana ou Messias.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Resenha:

Rock Independente com Jamile Vasconcelos (produtora)

Jamile Vasconcelos é formada em análise de sistema, mas trabalha como produtora cultural. Já trabalhou em projetos como: música no porto, sonora Brasil, mercado cultural, festival da Colômbia, mostra de artistas no SESC, já foi produtora de Bethânia e também é produtora do projeto giro independente. Sempre teve a parte cultural como força motora, mas seu foco é a música.

Segundo Jamile, há alguns anos ela observou que a noite de Salvador estava zerada com relação a projetos e espaços musicais, existia uma cena externa em outras cidades e estados, mas que não passava por salvador. Explica que bandas daqui como Ronei Jorge e Casca Dura agora que estão circulando, antes Retrofoguetes começou a circular para outros estados, mas era muito pouco e não havia informações sobre outras bandas de outros estados.

E foi através dessas observações que surgiu seu projeto giro independente, que trabalha com essa idéia de circulação. O projeto tem dois anos e já foi aprovado no edital da caixa, o primeiro show foi Eddie + Retrofoguetes + DJ’s, depois na Zauber com Lampironicos, num período de março, abril e setembro. A idéia era trabalhar com artistas de diferentes linguagens, mas as bandas que chegavam era essencialmente Rock. Seu primeiro show fez sozinha depois agregou parceiros que comprassem a idéia do projeto. O público esperado nos eventos faz parte de um segmento que cresce Salvador precisa se inserir mais e atrair esse público, para ela, a causa disso se deve ao crescimento e expansão do Axé influenciado também pelo carlismo. “Há dificuldades para desenvolver esse lado e com isso esses músicos que tocavam nesse segmento foram para o Axé, a quantidade de bandas e público diminuiu” diz Jamile.

Destaca que as casas noturnas cada vez mais são fechadas e que não há festivais na cidade tanto de música quanto em outras áreas como: audiovisual, teatral etc. devido a um enclausuramento que a Bahia passou. Diz ainda, que com a mudança de governo e a separação das secretárias de turismo e cultura, a parti daí uma nova visão e olhar podem tomar forças e se desenvolver. O Rock se transformou em resistência ao movimento de Axé aqui e há um declínio da cena Rock por causa da política anterior do governo.

Com relação às rádios que reproduzem esse Axé, segundo ela, seria uma conseqüência do processo e do governo que projeta a Bahia em cima do turismo. “A TV Bahia trabalha em cima dessa imagem. O Axé contribuiu para abafar a alma do Rock, tanto quanto outros movimentos. A máquina estatal é muito forte, porém há movimentos como o de música eletrônica que é crescente num movimento nacional. Temos também a grande influência do mangue beach que fortaleceu esse movimento aqui” diz Jamile.

Jamile encerra a palestra falando um pouco do que é ser independente. Para ela, fazer música independente é não estar atrelado a nenhuma grande marca, esses existem independentes de ter ou não patrocínio. Maria Bethânia, por exemplo, se julga, mas não é. Há três segmentos: Men strain Business, independente e underground. O Mundo Livre S/A são independentes não tem gravadora, pensam e vendem seus próprios CDs nos shows. Há diversas classificações para independente, Maria Bethânia, tem um selo na biscoito fino que é de uma gravadora independente. De acordo com o conceito de direito autoral Carlinhos Brown se considera também e assim por diante. “Há contradições entre produção independente e direito autoral”, diz Jamile.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Resenha - POLÍTICAS CULTURAIS DO GOVERNO LULA / GIL: DESAFIOS E ENFRENTAMENTOS

O Texto Políticas Culturais do Governo Lula / Gil é em primeiro lugar histórico e trata principalmente das políticas culturais já implementadas ou não no Brasil desde os tempos de Colônia. Albino Rubim explica que para se fazer qualquer análise da gestão do MinC nos últimos anos é necessário compreender toda a atuação do governo na área de cultura ao longo da história do Brasil.
A divisão do texto se dá em duas fases, pré-governo Lula e Governo Lula. Dentro da fase anterior ao governo Lula há ainda três subdivisões: ausência, autoritarismo e instabilidade.
A fase da ausência de políticas públicas para a área de cultura se deu em diversos momentos na história sendo que aqui é cabível considerar todo o período do Brasil-colônia e mesmo após independência e proclamação da república com raros movimentos pró-criação de órgãos culturais como foi o caso do governo Vargas (SPHAN 1937). Mesmo no momento pós-ditatorial da nova república em 1988, o que se deu foi uma inversão do poder de decisão dos investimentos que saiu do estado para a iniciativa privada, com a criação das leis de incentivo.
O autoritarismo deu o tom das políticas culturais nos governos ditatoriais, como não haveria de ser diferente. Segundo Rubim tal atuação visava instrumentalizar a cultura; domesticar seu caráter crítico; submetê-la aos interesses autoritários; buscar sua utilização como fator de legitimação das ditaduras e, por vezes, como meio para a conformação de um imaginário de nacionalidade. O autor ressalta ainda que mesmo diante dessa instrumentalização houve um avanço significativo no trato da cultura pelo estado.
A instabilidade presente nas mudanças de governo e consequentemente nas visões de ação cultural também veio prejudicar o desenvolvimento de políticas de cultura firmes e duradouras. Os militares acabaram com experiências positivas nas Universidades como os CPC’s – Centros Populares de Cultura. A cultura que até 1953 estava vinculada ao Ministério de Educação e Saúde passa a compor o Ministério de Educação e Cultura, e só em 1985 passa a compor um ministério autônomo, que foi logo transformado em secretaria no governo Collor. Esses são exemplos da instabilidade presente.
Após esse delineamento inicial que toma metade do texto ele vai analisar a ação do Minc no Governo Lula tomando por base a superação que tem sido desenvolver políticas no estado de “terra arrasada” em que se encontrava o setor. A palavra de ordem nesse momento no texto passa a ser a amplitude dos programas e projetos desenvolvidos pelo ministério sempre com um tom positivo a atuação do ministro-artista Gilberto Gil.
As limitações e obstáculos a serem enfrentados resultam da nova visão de cultura que o MinC tem tomado, dando conta da dimensão antropológica, que necessita de uma atenção maior na hora de formulação de programas. Ressalte-se também a necessidade de mais concursos que preencham cargos na área de cultura, uma descentralização dos equipamentos do ministério, revisão das leis de incentivo e por fim, a conquista de um maior e perene orçamento para a cultura.
Referência: RUBIM, Antonio Albino Canelas. POLÍTICAS CULTURAIS DO GOVERNO LULA / GIL: DESAFIOS E ENFRENTAMENTOS. In: III ENECULT, 2007, Salvador. Anais. Cd-rom.

domingo, 10 de junho de 2007

Semínario - Música Eletrônica na Bahia

O cenário musical baiano tem sofrido uma mudança significativa nos últimos 7 anos. Onde reinavam absolutos o axé e o pagode, grupos de rock, pop e principalmente de música eletrônica estão conseguindo obter destaque tanto junto ao público quanto junto à mídia. Apesar de ainda permanecer como um gênero alternativo, a música eletrônica deixou de ser underground.

Desde a instalação do Núcleo Pragatecno Salvador (1999) para cá, o número de festas, casas noturnas e até mesmo lojas voltadas para um público com inclinação clubber cresceu e vem se consolidando como mais uma faceta cultural da cidade, demonstrando que é mais do que apenas um fenômeno da moda.

Antes restritas às casas noturnas da cidade, na maioria boates gays como a Off Club, surge na Bahia uma cultura tecno-rave, onde festas clubbers são realizadas em locais inusitados como casarões em ruínas no comércio e a música eletrônica é o estilo musical que embala a noite. A realização da festa Zum Zum Zum, organizada pela promoter Lícia Fábio (25/11/2006) mostrou como a música eletrônica está se tornando cada vez mais presente em Salvador. Acolhido por um público bem diversificado, com idades entre 18 e 40 anos e das B e A, o evento teve uma estrutura dividida em três ambientes (camarote, pista coberta, largo externo) com muito conforto e uma grande variedade de serviços, como open bar, sorveteria, barraca de charutos, dance bar, exposição de carros e telão.

A arte eletrônica está sim, portanto, nascendo e crescendo na Bahia. Apesar das dificuldades representadas pelo domínio exercido pela Axé Music e do Pagode sobre o mercado musical baiano, cada vez mais produtores apostam na força da música eletrônica.

A cultura cyberpunk está se desenvolvendo na Bahia, onde despontam grupos divulgadores de música eletrônica, assim como raves que cultuam o verdadeiro dogma de paz, amor, unidade.
Manifestações populares, como o carnaval, abrem espaço para a cultura tecno-rave, cujo techno, house, drum´n bass... e tantas outras variações de estilo invadem o reino do axé e se infiltram até em eventos que homenageiam orixás. Lojas voltadas para o público clubber não estão mais escondidas nos guetos da cidade, mas sim em grandes shoppings da cidade. Seus produtos são considerados fashion pela moda e vendidos para todo o tipo de público, desde os verdadeiros clubbers até as “patricinhas” e “mauricinhos” que procuram sempre estar acompanhando o vai e vem da moda.

Existe, então, uma arte eletrônica na Bahia, com público, divulgação e grupos expressivos, que não tem por princípio apenas absorver a música que vem de fora, numa relação colonialista, mas sim tem o intuito de não se conectar a nenhuma cena local, posto que a arte eletrônica baiana e o movimento cyberpunk baiano se consideram parte de um movimento global da cultura cyberpunk que se manifesta através da música eletrônica.

domingo, 27 de maio de 2007

Resenha dos Seminários com Gestores públicos

Universidade Federal da Bahia
Faculdade de Comunicação
Disciplina: Seminários de atualização em cultura
Docente: Leonardo Costa
Discente: Rafael Lauria Raña Viana

Resenha
Debate com convidados da Secretaria da Cultura e da Fundação Cultura do Estado

No dia 08 de Março de 2007, gestores públicos da cultura recém empregados em seus cargos após a eleição do novo governo do Estado da Bahia reuniram-se com o meio acadêmico e integrantes da mídia na Faculdade de Comunicação da UFBA afim de que fosse apresentado o novo plano de governo para a gestão que será vigente durante os próximos quatro anos.
Dentre os gestores convidados a apresentar seu plano de gestão estavam Póla Ribeiro, que assumiu o Irdeb; Frederico Mendonça, do Ipac; Gisele Nussbaumer (Gica), diretora da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e Ubiratan Castro, gestor da Fundação Pedro Calmon. Seguindo a ordem de apresentações, Póla Ribeiro, do Ipac, foi a primeira. Um dos fatos mais importantes de sua gestão e de todas as outras na área da cultura no Estado foi a divisão que ocorreu, segundo Póla ´´ à facão ``, entre cultura e turismo. A partir deste ano, a Secretaria não será mais de Cultura e Turismo, mas unicamente de Cultura. Entretanto ela ainda é, segundo Póla Ribeiro, uma espécie de ´´ Frankenstein``, cheia de retalhos de outras áreas diversas que não a cultura. Póla acredita que a mídia de um modo geral, mas mais especificamente a TV, possui uma função de ´´ tirar o véu``, ou seja, expor os fatos e estar comprometido com a realidade. De acordo com a palestrante, Márcio Meirelles, novo secretário da cultura, teve um compromisso em ´´ tirar o véu`` quando foi apresentar a equipe da Secretaria para as comunidades. A gestora acredita que existe um jornalismo fraco na TV baiana, descompromissado em ´´ tirar o véu``, uma vez que não deu a devida importância às mudanças na nova gestão e seu plano de governo. Fora isso, um ponto importante colocado ainda nessa primeira apresentação é o plano de se associar às rádios comunitárias e abrir novas possibilidades, oxigenar a rádio no Estado, levando profissionais para fazer oficinas de capacitação.
O segundo gestor público da cultura a expor seu plano de ação foi Frederico Mendonça, do Ipac. Sua primeira colocação foi um esclarecimento acerca da função do Ipac, desconhecida pela maioria das pessoas, que é a responsabilidade pela área de patrimônios públicos da cultura, se guiando pela noção de patrimônio cultural presente na constituição brasileira. De acordo com Frederico Mendonça, o Ipac está profundamente carente de um suporte mais efetivo, valorização do quadro funcional e técnico. Ele afirma que os funcionários ´´ perderam o tesão`` principalmente devido aos baixos salários. Falou da diretoria de Museus, enfatizando que a maioria deles está concentrada no Pelourinho e que a situação dos museus em geral vai de regular a péssima e nenhum deles está numa boa situação. Um ponto importante dessa nova gestão foi o fim do projeto ´´ Pelourinho Dia e Noite``. Frederico Mendonça disse que é preciso ´´ arquivar esse nome no fundo do oceano``. ´´ O pelourinho não é um shopping 24 horas e não há necessidade de fazer espetáculo em cima de espetáculo. O Pelourinho em si já é um espetáculo. Nada mais de palco gigante no Pelourinho``. A ação do Ipac hoje é, segundo ele, recolocar em discussão a associação da ação de valorização do patrimônio à preservação do meio ambiente e ao desenvolvimento urbano. Enfatiza que a gestão deve ter um posicionamento crítico referente a essas necessidades: ´´ É preciso se instrumentar, se armar, para a demanda das prefeituras e comunidades do interior. Um prefeito do interior tombou de uma só vez 25 imóveis``.
Após Frederico Mendonça, Gica, diretora da Funceb, fez uma rapidíssima, ainda que objetiva e completa, apresentação com slides sobre as mudanças na nova gestão. Entre os pontos mais importantes colocados dentre os inúmeros citados estavam a redefinição da administração interna e do quadro de funcionários. Ela enfatizou mais de uma vez que a Funceb conta com 1.200 funcionários. ´´ É preciso mexer no funcionamento interno. A estrutura é grande, antiga e defasada. O peso da estrutura paralisa o funcionamento``. Além disso, de agora em diante, as seguintes áreas terão diretorias específicas: Dança, Música, Teatro e Artes Visuais. Cada uma dessas terá uma diretoria separada das outras, não mais existindo, por exemplo, a Diretoria de música e artes cênicas (Dimac), de forma que cada uma dessas áreas tenha a partir de agora uma atenção especializada. Uma outra questão relevante colocada foi a reformulação do projeto ´´ Sua Nota é um Show``. A proposta da nova gestão da Funceb é ampliá-lo para além da Música, de forma a incluir também espetáculos de Dança, Teatro e outras áreas.
Em seguida, foi a vez da exposição do plano de gestão da Fundação Pedro Calmon por Ubiratan Castro. O palestrante tinha convicção ao iniciar seu discurso afirmando que o Governo de Lula e a eleição de Wagner são um marco para desenvolvimento social na Bahia. Ubiratan explicou em seguida que a Fundação Pedro Calmon é responsável pela área de literatura e Biliotecas na gestão pública da Cultura. Um dos pontos de maior importância em sua apresentação foi a referência aos problemas de estrutura na Biblioteca Central, uma de grande porte e bem localizada, próxima à Estação da Lapa. O prédio necessita de manutenção e o público tem caído, o que aponta para a necessidade de os gestores se ocuparem do problema, de ser gasto dinheiro para a recuperação do prédio e de se colocar em prática novas estratégias de levar o público ao encontro da leitura. Nesse sentido, ele cita o Programa Nacional do Livro, empregado pelo Governo Federal, e afirma que se precisa criar um programa estadual também. Ele acredita na idéia de caravanas de leitura, de ir às ruas para levar os livros à população, uma ´´ caravana popular com literatura popular``. Em suma, afirma que o desenvolvimento deve ser pautado por democracia e participação popular, o que leva a crer que tem a intenção de assim o fazer em sua gestão.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

O músico João Reis fala sobre Música Independente


O músico João Reis, convidado da palestra sobre Música Independente, começou a sua fala sobre a IMA - Independência Musical Associada - constituída por um grupo de músicos independentes, com o propósito de criar condições de produção, execução, divulgação e distribuição dos trabalhos de seus artistas para o Brasil e exterior. Além disso, a IMA pretende formar uma entidade jurídica, que represente os seus associados.

Dentre algumas realizações da IMA, pode-se destacar o projeto “Noites Independentes”, que consiste em uma série de apresentações dos artistas do IMA, alternadas com debates em meio a apresentações musicais, possibilitando uma integração entre músicos, bem como a produção de conhecimento sobre o mercado da música independente. Os shows, por sua vez, estão inseridos num projeto maior, o Circuito de Shows IMA, o qual realiza shows dos seus músicos independentes associados. Esse circuito inclui, como espaços de apresentação dos shows, o Teatro Sesi, o Espaço Mar de Esmeraldas, a Casa da Mãe e espaços ao ar livre, como a Lagoa do Abaeté.

Para maiores informações sobre a IMA:
http:
//imabahia.vilabol.uol.com.br

João ressaltou, em seu discurso, a potencialidade da Bahia no cenário artístico como um todo, em especial na música, ao se caracterizar historicamente no ambiente cultural, como um importante centro de criação e produção, ao revelar artistas que figuram entre os mais criativos e respeitados no cenário nacional. Em contrapartida, Reis salienta que, nos últimos anos, há uma predominância quase exclusiva da música de carnaval, popularmente conhecida como Axé Music. Tal generalização tem contribuído para que outros centros, como Pernambuco e Ceará, ocupassem o espaço de renovação e dinamismo na área da música.
Tendo como ponto de partida esse pressuposto, pensou-se na necessidade de organizar ações que fortaleçam iniciativas artísticas de pequeno porte. Assim, o Programa de Apoio à Exportação de Música (Pró-Música) é uma parceria entre o Ministério da Cultura e o Sebrae, lançada em 2005, no sentido de ampliar e expandir a produção musical brasileira, tornando-a mais presente no exterior. A partir deste plano, surgiu o POMBA – Pólo de Desenvolvimento da Música Independente da Bahia, que é composto pelo Terreiro Circular e pela IMA. João destacou a futura participação da IMA na Feira da Musica Independente Internacional de Brasília, no qual, de 02 a 05 de maio, irá reunir muitos artistas da música independente do cenário nacional e internacional, buscando estabelecer relações comerciais e vínculos artísticos.

Pegando este gancho, Reis lembra do dualismo entre o Mercado X mercado, onde o primeiro está associado ao esquema das gravadoras “majors” e o segundo se refere ao segmento independente, o que não quer dizer amador nem completamente independente do grande circuito. Além disso, endossou o que se pode chamar de segmentação de mercado no campo da música, no qual os produtos já têm seus públicos específicos, cada vez mais exigentes, não só em relação a música em si, como também pela sua embalagem e, observando este fato, muitas gravadoras inventam maneiras de atrair este público, com produtos mais elaborados.
Em relação ao SEBRAE, João afirma que esta instituição apoiou a estruturação da IMA desde o seu início, ao incentivar o fomento dos negócios na área de música, bem como apoiou a realização de eventos em outros estados que contaram com a participação da IMA. Houve também o lançamento de um CD de apresentação da IMA, produzido pelo POMBA, junto com parceiros, em janeiro de 2007.

Uma das questões apontadas na palestra foi a respeito da Associações de Produtores Culturais, APC, que atua em Salvador e no interior do estado, cujas reuniões acontecem freqüentemente, em locais como a FTC. Mesmo estando em fase inicial, a Associação já aponta algumas diretrizes, dentre elas a congregação dos produtores culturais, objetivando a troca de informações e experiências; a defesa dos direitos e interesses da classe dos associados; contribuir com a capacitação dos produtores culturais e a manutenção de um órgão de orientação jurídica e consultoria técnica de aspectos concernentes à área.

Contato da Associação: produtoresculturais@gmail.com

terça-feira, 22 de maio de 2007

Bate-papo com Fernando Marinho na Facom

Discutir a importância do registro profissional do produtor cultural junto ao Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado da Bahia (Sated-Ba) foi um dos temas abordados por Fernando Marinho durante o bate-papo com os alunos da disciplina Seminários de Atualização em Comunicação 2007.1 na Facom. Além de graduado em direito pela Universidade Federal da Bahia e mestre pela Fundação Getúlio Vargas, Fernando é músico, ator, diretor teatral e artista plástico.

Com muito bom-humor, Fernando Marinho sintetizou a realidade da produção cultural brasileira e baiana a uma pergunta crucial: Existe algum ator, diretor ou músico “global” que participa do projeto? Apesar da pergunta capciosa, as respostas, segundo Marinho, condizem com o momento atual.

Caso a resposta seja positiva, o cronograma será cumprido, a captação de recursos seguirá as metas e o evento terá ampla cobertura. Fernando afirma que no caso oposto o produtor cultural encontrará diversos obstáculos para a realização do seu evento. “Entretanto, aí deve atuar a versatilidade do profissional e começar a pensar como um vendedor”, explica.
Ao falar de teatro, Fernando Marinho ressaltou que um projeto bem escrito não capta recursos. “O importante é pensar como o patrocinador e identificar onde podemos incluir a marca ou produto no espetáculo de modo criativo. Temos inúmeras possibilidades que vão além do banner, dos folders e outras mídias tradicionais. Uma vez montei um cenário inteiro com tubos de PVC e quem era o patrocinador? A Tigre! É claro que personalizamos as peças e tiramos as marcas (da patinha), mas podemos mostrar o patrocinador em quase todo lugar, desde a música e a cenografia até no figurino”, diz.

Outro ponto importante destacado por Fernando, que também é presidente do Sated-Ba, é a falta de interesse dos profissionais do ramo artístico em filiar-se ao sindicato. Ele aponta que as mobilizações são eventuais e quase sempre originadas pela ausência de editais públicos para a democratização da cultura. “Temos assembléias lotadas na Faculdade de Teatro (Ufba) até o momento em que o governo municipal, estadual ou federal lança algum edital complementar. Como a maioria dos profissionais vive de escrever projetos, todos correm e esquecem das outras reivindicações da classe debatidas em assembléia”, comenta.

Mini-Currículo: Fernando Marinho foi vencedor em concursos de piano e de arranjos da Universidade Católica de Salvador. Como ator e diretor teatral, obteve três prêmios de melhor ator, dois prêmios de direção e duas menções honrosas com trilhas para espetáculos teatrais. Fez apresentações em diversos estados brasileiros e em cidades americanas e européias. É fundador da Companhia Baiana de Patifaria, marco na história do teatro baiano, diretor artístico do Troféu Caymmi, curador do Festival de Música Instrumental da Bahia, além de membro da Comissão Gerenciadora do Programa de Incentivo à Cultura do Estado da Bahia – o Faz Cultura.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Resenha sobre o texto de Sérgio Sobreira “Públicos e Mercados Culturais para o Teatro Baiano

Sérgio Sobreira inicia o texto comentando sobre as dificuldades enfrentadas pelo teatro baiano nos anos 70 e 80, época em que os espetáculos permaneciam alguns dias ou, no máximo, poucas semanas em cartaz, embora muitos desses espetáculos fossem de grande qualidade. A estréia da peça “A Bofetada” na Sala do Coro do Teatro Castro Alves em 19989, representou uma grande vitória para o teatro baiano sob o ponto de vista cultural e econômico, uma vez que alcançou índices de público e de permanência em cartaz nunca antes experimentados.

Outras produções passam a conhecer o êxito de permanecer em cartaz por longas temporadas, além de obter também o reconhecimento da critica e da mídia. Tais espetáculos, assim como “A Bofetada”, eram pautados pela comédia e pelo humor como “Los Catedrásticos”; “Os Cafajestes” e “Noviças Rebeldes”. Posteriormente, outros gêneros teatrais, como a tragédia e o drama, “alcançaram um sucesso até então inédito para espetáculos mais densos e de assimilação mais complexa, como “O Sonho” (1996/1997) e “Divinas Palavras” (1997/19998)”.

Nesse novo contexto, o campo da cultura cresce e se desenvolve sob diversos aspectos. Novas salas de espetáculos são construídas, antigos teatros são reformados e novos meios de fomento à produção como as leis de incentivo, os editais e os prêmios de montagem são criados. A consciência tanto do governo - a política cultural exarada pelo governo vai estabelecendo progressivamente novos mecanismos de interlocução entre os segmentos que compõem a cena cultural baiana, principalmente por meio das leis de incentivo – como também por parte de outros segmentos como a exemplo das empresas privadas.

Antes não havia uma visão mercadológica do teatro baiano e o entendimento da cultura como negócio era precário por parte dos artistas que, na grande maioria das vezes, dependiam de outra atividade profissional para sobreviver. A incorporação pelos meios de produção de estratégias de comunicação melhor estruturadas foi acrescida a novos diálogos com os seus públicos e mercados, ou seja, novos investimentos na divulgação foram feitos (antes se investia apenas nos impressos gráficos, a exemplo de cartazes e panfletos).O direcionamento para as mídias de largo alcance, como spots de rádio, veiculação de chamadas de TV e exibição de outdoors são alguns exemplos. Dessa forma, segundo Sérgio Sobreira, numa trajetória de pouco mais de dez anos houve uma mudança substantiva no perfil da produção teatral baiana.

“Os fatores contributivos à obtenção do êxito têm sido os mais diversos: a escolha oportuna dos textos, a alta qualidade interpretativa dos atores baianos, a pluralidade estética de nossos encenadores aliado ao talento dos diretores proporem dramaturgias renovadas” afirma Sérgio Sobreira. Acrescentando a todos esses fatores o novo relacionamento do teatro baiano com a mídia é possível compreender a nova relação instituída entre o palco e a platéia.

Novas formas de atuação profissional também têm surgido ampliando as condições de sobrevivência da categoria. O teatro pode ser usado como instrumento de ação pedagógica no trabalho e na escola, assim como na realização de oficinas. O surgimento do pólo de teledramaturgia também se constitui como um importante meio de afirmação profissional dos talentos advindos do teatro.

Num segundo momento do texto, Sérgio Sobreira afirma que as universidades baianas precisam desenvolver pesquisas de estudo e análise do contexto onde a cultura se insere. Como professor substituto da Faculdade de Comunicação da UFBA, teve a oportunidade de ministrar a disciplina “Oficina de Análise de Públicos e Mercados Culturais” em que foi possível realizar com os alunos três pesquisas sobre o perfil de consumo cultural de alguns segmentos sociais.

A partir da análise dos resultados obtidos com a pesquisa foi possível constatar, entre outras coisas, que a preferência do universitário baiano, seja ele de faculdade gratuita ou paga, pelas atividades de entretenimento e lazer é acima de tudo para música e cinema. O teatro surge numa terceira posição indicando que há interesse por parte dos jovens, mas ainda não é a opção preferencial de entretenimento do público que, por diferentes fatores, ainda se acha distanciado do acesso às salas de espetáculo.

Se por um lado, é possível haver um grande número de espetáculos teatrais em cartaz na cidade, por outro, ainda estamos aquém do potencial de crescimento deste mercado. As pesquisas comprovam que o teatro não é a opção de entretenimento do público, principalmente dos jovens, mas ainda assim muitos desses podem ser motivados e atraídos para as platéias soteropolitanas. Segundo Sérgio Sobreira é preciso saber comunicar aos jovens que ir ao teatro é uma opção cultural de lazer satisfatória, prazerosa e a um custo acessível. “Na medida em que for capaz de conciliar arte e mercado, cultura e negócios o teatro baiano crescerá cada vez mais”.


sexta-feira, 11 de maio de 2007

TECNOLOGIA A SERVIÇO DA CULTURA

TECNOLOGIA A SERVIÇO DA CULTURA
Ministério da Cultura aprova projeto de estudantes sobre novas mídias

Aprovado pela Lei Rouanet do Ministério da Cultura, o projeto Putzgrilo - Podcast Cultural já tem motivos de sobra para comemorar! Dos famosos bate-papos no fundão da sala de aula, três alunos do curso de Comunicação em Jornalismo e Produção em Comunicação e Cultura da UFBA deram vida a este projeto inovador, que consiste na criação de uma página na internet para abrigar informações sobre o cenário cultural baiano; divulgação de entrevistas com professores, produtores culturais e patrocinadores da cultura; veiculação da agenda cultural semanal; além de uma boa programação musical. Todo o conteúdo será produzido por uma equipe formada por um jornalista, um produtor cultural e um estagiário de produção, e será disponibilizado no formato de Podcast. Durante 11 (onze) meses, serão veiculados dois programas semanais de uma hora cada.

Para quem não conhece ainda a nova tecnologia, o site Wikipedia.com (maior enciclopédia do mundo) define Podcast ou Podcasting sendo uma forma de publicação de programas de áudio, vídeo e fotos pela Internet que permite aos usuários acompanhar a sua atualização. A palavra “podcasting” é uma junção de iPod - um aparelho que toca arquivos digitais em MP3 - e broadcasting (transmissão de rádio ou tevê). Assim, podcast são arquivos em áudio que podem ser acessados pela internet. Estes áudios podem ser atualizados automaticamente mediante uma espécie de assinatura. Os arquivos podem ser ouvidos diretamente no navegador ou baixados no computador.

Apesar de ter conquistado um importante passo, a materialização do Putzgrilo ainda depende de um incentivador fiscal – etapa em que, infelizmente, muitos produtores culturais adiam o sonho de colocar em prática suas idéias. Por isso, pedimos o reforço da imprensa baiana nesta empreitada jovem, mas bastante madura e criativa. Embarquem nesta viagem com a gente!


By Marcus Ferreira
pankjones@hotmail.com

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Resenha da palestra feita pelo escritor Dênisson Padilha

Na sexta-feira, dia 20/04, a FACOM contou com a presença de Dênisson Padilha, escritor e ex-secretário de cultura de Rio de Contas, que falou um pouco da sua trajetória, de seus livros e das dificuldades do escritor independente diante do mercado editorial, durante a aula da disciplina Seminários de Atualização em Comunicação.
Ao se apresentar, Padilha traçou os seus primeiros passos como escritor. O primeiro livro, intitulado Gavihomem, foi lançado entre 1996 e 97, resultado de sua vitória no concurso Art Contemp, na categoria poesia. Em 99, foi lançado Aboios Celestes, livro que já contava com um trabalho de editoração melhor. Em nenhum dos dois livros houve facilidade no percurso que vai da construção dos textos e das imagens ao trabalho final de editoração e de distribuição.
A experiência que adquiriu ao longo desses dois trabalhos, fez com que o autor entendesse o livro como resultado de um processo mais amplo de editoração, não como algo apenas concluso em seus próprios textos e imagens. Segundo Padilha, ao escritor não cabe somente escrever; ele deve pensar, além disso, na edição e na distribuição do seu trabalho. Por outro lado, deve ter consciência de que estes trabalhos complementares precisam ser feitos por outros, especialistas em suas áreas. Em outras palavras, o autor não pode ser ingênuo ao ponto de pensar que sua obra estará concluída no momento em que finaliza os textos, mas, também, não pode pensar que todo o trabalho pode ser feito por ele; deve, sim, pensar de forma ampla, como um empresário, que supõe todas as etapas do processo de criação de um produto e equipes para trabalhar nesse processo – no caso da literatura, essa equipe se constitui na editora e na distribuidora, entre outros.
Para um escritor independente – que não possui patrocínio durante a composição de sua obra –, o caminho a percorrer até a distribuição do livro não é fácil. Em Carmina e os Vaqueiros do Pequi, terceiro livro de Padilha, não foi diferente. Mais uma vez, o autor teve de buscar, por conta própria, patrocínio, edição e distribuição da sua obra.
O patrocínio, conseguiu através da prefeitura de Rio de Contas, ao apresentar o enredo do livro, ambientado no semi-árido, com características semelhantes as da região de Rio de Contas. Já a edição, foi feita pela editora Santa Luzia. Os manuscritos do livro foram lidos pelo dono da editora, que gostou do texto e se propôs a editar a obra, sem cobrar pela revisão. A distribuição, como sempre acontece com o escritor independente, foi feita de livraria em livraria, de porta em porta, solicitando que algumas cópias do livro fossem colocadas à venda pelos livreiros.
Segundo Padilha, o Estado deveria assumir esse papel de distribuidor; facilitar o acesso à obra em diferentes localidades, beneficiando, assim, escritores e leitores, artistas e públicos interessados. Ao Estado caberia menos o papel de editar e patrocinar as obras do que o de fomentar a expansão e o acesso a elas. Como já foi dito, o autor defende que o artista deve pensar como empresário, utilizando-se das leis de incentivo à cultura, através das quais ele pode captar os recursos necessários para a composição e edição de seus livros. A partir daí, o Estado desempenharia a função de distribuir, expandindo o acesso à obra para além de um número reduzido de pontos de venda ou pequenas livrarias.
Num determinado ponto da aula, uma questão foi levantada: existe artista sem público? Essa questão surgiu quando Padilha afirmou que acreditava não escrever para essa geração, que vive na era da informação e não da formação. O escritor leu um trecho de seu último livro, Carmina e os Vaqueiros do Pequi, e perguntou se a turma não concordava com ele.
Diante da pergunta, afirmou que, durante o seu trabalho de criação, não pensa na reação do receptor, ou seja, não escreve supondo um determinado tipo de público e uma forma de agradá-lo. Segundo o autor, todo escritor (independente, principalmente) precisa de um estímulo interno, precisa ser motivado pela sua própria criação, pois ele não tem o contato direto com o público durante esse processo, diferente de um artista musical, que tem uma prévia da reação do público através dos shows anteriores ao lançamento de um novo disco, por exemplo. A literatura é uma arte silenciosa, reservada e, por isso, não pode depender diretamente da reação do público.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Texto: Políticas públicas para o livro e a leitura na sociedade da informação e sua influência na indústria editorial de Salvador.

O texto em questão, trata da relação livro, editoras e leitura. Com base em pesquisas nacionais e locais o texto aborda as políticas de incentivo à leitura e seus reflexos na indústria editorial de Salvador.
Um dos obstáculos para um programa de leitura eficiente está num setor que interfere na vida e na sociedade como um todo-a educação. O atual governo propõe elevar o índice de leitura dos brasileiros através da abertura de livrarias e financiamento à editoras, além do Programa Nacional do Livro (PNLL),que visa zerar o Número de municípios sem bibliotecas,mais a aquisição de 2.500 títulos para cada biblioteca implantada sendo 2.000 caracterizados como acervo básico e 500 adquiridos nos próprios Estados,visando a manutenção das culturas regionais e o fortalecimento das editoras regionais.
Segundo dados do INEP o Brasil possui mais de 16 milhões de analfabetos sendo que 50% se concentram na região Nordeste, fato que reflete o baixo desenvolvimento econômico da região e as desigualdades sociais. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), coloca o Brasil como um dos “lanterninhas” em interpretação de textos, distinguindo alfabetização(conhecer o código) de letramento (saber usar e interpretar o código).Com o surgimento de novos meios de informação a questão é ao mesmo tempo colocar os indivíduos em contato com as novas tecnologias, o que se torna um desafio duplo no nosso país.
No Brasil desde o início do século XIX existem políticas públicas voltadas para o livro. Esses programas não são eficientes, pois não há continuidade dos programas por parte dos governos subseqüentes. Temos um apanhado de leis e programas como: Lei Rouanet (lei 8313/91), Lei do Direito Autoral (lei 9610/98), Política Nacional de Livro (lei10. 753/2003), Pronac http://www.minc.gov.br(Programa Nacional de Incentivo a Leitura), Comissão Nacional de Incentivo à Leitura (cenic), a Lei Sarney, etc. todas essas com projetos voltados para o livro e a leitura.
Na Bahia, a Fundação Pedro Calmon desenvolve Políticas estaduais para o livro.
O texto também faz um levantamento sobre a atividade editorial de salvador encontrando 10 editoras privadas, três órgãos públicos que possuem atividade editorial, porem não regulares, e cinco editoras universitárias. A pesquisa atenta para o pouco tempo de existência das editoras soteropolitanas onde 43,75% têm até cinco anos de fundadas, e mais de 56,25% possuem linha editorial definida, mais de 25% publicam apenas autores baianos. Constatou-se também a falta de um conselho editorial na maioria delas, comprometendo a qualidade do produto, mas também possibilitando que autores novos tenham suas abras aceitas. 56,25% das editoras, visando o lucro, utilizam-se do sistema de participação financeira por parte dos autores. 62,5% das editoras são adeptas da co-edição. Apenas 6,25% possuem parque gráfico, e em Salvador, parte das gráficas são consideradas despreparadas e de baixa qualidade se comparando-as com as do Rio de Janeiro e São Paulo.
Continuando a pesquisa com sete editoras privadas e uma universitária e pública associadas à Câmara Bahiana do Livro, todas as editoras disseram conhecer e participar das discussões dos programas desenvolvidos pelo governo, dois se revelaram descrentes devido a região ser pouco beneficiada.Metade dos entrevistados acredita no retorno de investimentos as editoras por desoneração fiscal,podendo acarretar na redução do preço dos livros.Em Salvador, dois entrevistados dizem estar comprometidos, e seis desconhecem e/ou duvidam da seriedade das ações empreendidas pela Câmara Bahiana.Dentre os entrevistados um disse se utilizar da Lei Rouanet, três do Faz Culturahttp://www.fazcultura.ba.gov.br, e quatro se dizem desestimulados pela burocracia, além da falta de controle sobre a aplicação de recursos públicas.
Do Programa Fome de Livro somente duas editoras participaram seis não escreveram títulos, onde cinco destes disseram não ter conhecimento sobre a abertura das inscrições, um deles disse que não se inscreveu por acreditar que o programa é para formação de leitores.
Com isso conclui-se que, por serem jovens as editoras de Salvador apresentam características que as colocam em desigualdades em relação às editoras do Rio de Janeiro e São Paulo. Elas se mostram também pro ativas diante do governo. Esse Estudo conclui que se faz necessário à implementação de políticas voltadas para as editoras, além, da criação e/ou desenvolvimento de bibliotecas públicas e escolares.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Hip-hop como instrumento de luta dos movimentos sociais

“Hip-hop – um movimento musical, que, mesmo mantendo o seu aspecto periférico geográfico e cultural, começa a sair da margem para ocupar lugares no centro e constituir o diferencial de estilo e gosto musical de uma parcela da juventude brasileira que prefere evitar o clichê dos dias atuais, (...). Dessa forma, o hip-hop surge como uma forma de narrar à situação social e econômica a que estão submetidas essas populações, (...).”
O movimento social, que utiliza a música para mostrar a realidade das periferias,
é uma mistura de sons de rua. Nas letras, encontramos críticas a sociedade, ao governo, educação, etc. O movimento surge nas favelas e periferias dos grandes centros. Geralmente, quem participa do movimento são pessoas de classe baixa, que utilizam na música, expressões como o rap, break e grafite para discutir e expor soluções da realidade na periferia.
Nascido nas periferias norte-americanas, o hip-hop conquistou o mundo com sua batida e versos que abordam a realidade dos grupos sociais. No Brasil, não poderia ser diferente, atingiu públicos de todas as idades, raças e classes sociais. Além disso, o hip-hop tem sido tema de diversos projetos sociais que, assim como os fundamentos desse ritmo, acreditam que paz, amor, união e diversão são importantes elos na luta por uma sociedade melhor.
O hip-hop, a cada dia se torna mais presente. Está em grafites que embelezam ou enfeiam muros e paredes das grandes cidades e nas roupas. É um movimento que invade as metrópoles brasileiras da periferia para o centro. Para muitos jovens, o hip-hop vem fazendo a diferença, mudando jeitos de pensar, dando oportunidades e denunciando a desigualdade social e racial.
Apesar do hip-hop ser um espaço que permite aos jovens das periferias se inserirem na sociedade de forma politizada e crítica, a imagem dos jovens ligados ao movimento nem sempre foi positiva. Os meios de comunicação construíram imagens e representações de uma forma muito negativa, do “delinqüente juvenil”, como se eles fossem uma espécie de inimigo número um das cidades.
O hip-hop tem um forte lado de conscientização. Eles se organizam cada vez mais para que possam criar alternativas para os jovens da periferia não caírem na criminalidade e nas drogas.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Fora de Órbita Rap

O maior evento de batalha de Hip Hop de salvador, dia 04/05 (sexta-feira), às 22h, na Casa do Samba, Pelourinho.

O movimento Hip Hop foi tema da aula do dia 27 de abril de 2007, na Faculdade de Comunicação (FACOM) da UFBA. Atendendo ao que se propôs o professor da disciplina "Seminários de atualização em comunicação", Leonardo Costa, os estudantes presentes na última sexta-feira de abril tiveram a oportunidade de conhecer um pouco da produção baiana de Hip Hop, através da carreira do produtor e músico Rangell, convidado da semana. Ou melhor, dos convidados, já que o evento contou a participação do professor Nelson Maca, que também faz parte do movimento e contribui com suas experiências.
Fazendo uma retrospectiva da sua carreira como produtor e baixista de Hip Hop, Rangell contou quando conheceu o movimento, que se conceitua – segundo ele - através de 4 elementos: o break, o grafite, os DJs e os MC’s (que fazem o Rap). Seu primeiro contato então se deu no ano de 1996, através de alguns discos que sua irmã lhe apresentava. Em 1998, ele assumiu o papel de produtor, após realizar seus próprios eventos. Tanto Rangell quanto Maca fizeram questão de frisar, durante toda fala a dificuldade que eles sempre encontraram para "tocar", a falta de apoio, o preconceito e o acúmulo de funções que tinham que desenvolver, tudo pela sobrevivência deles enquanto participantes do movimento Hip Hop local. Maca exemplificou sua fala dizendo que o DJ que tava tocando em uma festa era a mesma pessoa que fizera a portaria, ou a segurança, ou a produção da festa, como acontece até hoje com Rangell.
"Até hoje, ou você corre atrás, produz seus próprios eventos, faz sua própria divulgação, através da internet - na maioria das vezes, capta recursos, ou você não toca, nem faz seus amigos tocarem. Eu não pensava como produtor cultural, sempre foi por sobrevivência mesmo(...)". Foi o que disse Rangell quando perguntado sobre a produção de Hip Hop aqui na Bahia. Mostrando-se "indignados" com o preconceito que ainda sofrem, e consequentemente com a falta de apoiadores, Rangell e Maca falaram sobre seus principais eventos, nos quais tiveram a presença do grupo "Elemento X", do carioca "Os Racionais MC’s", do "Testemunhaz" (primeira banda de Rangell), do "Afrogueto", "Blackitude", bem como sobre o evento "Fora de Órbita Hip Hop", feito com a ajuda de muitos amigos, apoio de rádios comunitárias (até porque é na periferia onde estão os principais consumidores de Rap) e, curiosamente, o primeiro que gerou lucro. "Sobrou pouca coisa, mas sobrou!"
Falando um pouco sobre o Hip Hop, especificamente, segundo Rangell, é um movimento que dá a liberdade para várias tendências, e cada um defende o seu espaço. Alguns aproveitam para expressar pensamentos revolucionários, enquanto outros se apropriam apenas do seu caráter musical. Uma característica marcante do Hip Hop são as "batalhas freestyle", que acontecem com freqüência no Rio de Janeiro, nas quais a galera julga quem rima melhor.
Por fim, Maca se encarregou de dar um recado e fazer um convite para nós, futuros produtores: "Hoje, nós rappers temos que produzir, mas não é por opção. O grafiteiro tem que ser livre para grafitar. O MC não precisa ser bom porteiro, tem que ir lá e fazer só o dele. A gente precisa de um produtor, não do próprio artista produzindo, cada um na sua área sem sobrecarregar ninguém. Mas para ser produtor de Hip Hop é preciso viver o Hip Hop, para entender como as coisas acontecem. Nada melhor do que prestigiar o maior evento de batalha de Hip Hop de Salvador, marcado para a próxima sexta (04/05), na Casa do Samba, no Pelourinho, às 22h".

O quê? Fora de Órbita Rap

Quando? Dia 04/05 (sexta-feira), às 22h.
Onde? Casa do Samba, Rua do Passo, nº 40, Pelourinho.
Atrações? MC Marechal (RJ), Gutierrez (RJ), Afrogueto, H.U.N., DJ Leandro, DJ Mjay e Batalha de MCs.
Informações? 8877-0274 (Rangell) / 8843-9825 (Leandro) / 9125-3503 (Ozório)

Quer saber mais sobre o movimento Hip Hop no Brasil, acesse os sites:
- www.bocadaforte.com.br
- www.realhiphop.com.br
- www.rapnacional.com.br
- www.tocadiscopublico.blogspot.com (Blog do Rangell)

Outros contatos:
- blackitude@gmail.com
- positivoz@gmail.com (Rangell)

segunda-feira, 30 de abril de 2007

III Fórum Perspectivas para o Cinema na Bahia

Nossa aula de sexta-feira será no III Fórum Perspectivas para o Cinema na Bahia

4/maio . sexta- feira
8:30 h SOLENIDADE DE ABERTURA DO III FÓRUM
Local: Auditório da Biblioteca Pública - Barris.

Mesa de Abertura:
Solange Lima – ABCV/ABD-BA
José Araripe Jr. - CTAv/ SAV- MinC
Márcio Meirelles – Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SECULT)
Paulo Lima – Fundação Gregório de Mattos (FGM)
Jorge Alfredo Guimarães – Associação dos Produtores de Cinema Norte - Nordeste (APCNN)

9:30 h Mesa Redonda
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O AUDIOVISUAL
Local: Auditório da Biblioteca Pública - Barris.

Mediadora: Solange Lima – ABCV/ABD-BA

Debatedores:
José Araripe – CTAV
Pola Ribeiro – IRDEB
Sofia Federico – DIMAS
Cláudio Monteiro – Bahia Film Comission
Paulo Henrique Almeida – SUPROCULT

domingo, 29 de abril de 2007

Mercado do Audiovisual na Bahia

Convidados: Solange Lima, diretora da ABCV, e Paulo Alcântara.
Data: 13 abril de 2007

Solange Lima, cineasta baiana, é a atual Diretora da ABCV – Associação Baiana de Cinema e Vídeo. Ela nos conta que a ABCV, que existe a mais de 30 anos, surgiu para proteger os cineastas baianos no período da Ditadura. Ressalta ainda que a ABCV não é um sindicato, mas que funciona como articuladora do audiovisual, através de diversas formas.
A cineasta lembra que a Associação funcionou, por exemplo, durante 5 anos de um forma bastante efetiva fazendo intercâmbio cultural com Cuba.

A Associação teve um grande período de ausência durante 20 anos e apenas a seis anos atrás conseguiu uma retomada. O grupo atual ligado a ABCV está pensando nas políticas voltadas para a cultura e cinema. O Governo Federal e o Ministério da Cultura fizeram uma convocação para todos envolvidos com o cinema no Brasil para se discutir as formas de descentralização de investimento na área das produções cinematográficas. A ABCV representou o estado baiano.

Solange ressalta que entre os anos de 2005 e 2006 seis filmes longa-metragem foram produzidos na Bahia. No entanto o espaço na mídia para um maior apoio ainda é insuficiente. Segundo Solange, “filmes alternativos não tem tanta visibilidade na mídia brasileira”.

Um dos aspectos que são bastante discutidos sobre o cinema no estado é se há mercado para o audiovisual na Bahia. Solange afirma que estudos e pesquisas já foram feitos abordando essa questão e a resposta é positiva. O mercado de cinema pode chegar a movimentar 8 milhões diretamente e cerca de 14 milhões indiretamente, por ano na Bahia. Ela afirma que assim que o cinema for entendido como indústria e que as políticas forem voltadas para tal, há a possibilidade de se estabelecer o cinema na Bahia.

Outro aspecto bastante discutido atualmente é a questão da falta de mão de obra especializada para o mercado do cinema. Atualmente já existem articulações nacionais e estaduais para fomentar a capacitação. A ABCV, por exemplo, já tem planos de cursos nas diversas áreas técnicas, como iluminação, edição, mixagem de som, etc. Solange salienta que a capacitação é uma forma de inserção de diversos profissionais no mercado e o conseqüente fomento a emprego no estado.

Na Bahia o cinema está acontecendo. Existem produções baianas e outras produções (com equipes de outros lugares) que estão fomentando o mercado baiano. No entanto, Solange frisa que é necessário um maior investimento em produções baianas. Ela explica que apesar de haver fomento ao mercado do estado, uma produção de fora que faz um filme na Bahia não tem o propósito de estabelecer o mercado e a economia baiana, assim como as produções locais.

Solange sugere alguns mecanismos para que haja um fomento efetivo de produções baianas como a criação de Editais voltados para cada estado. Para se restringir para a Bahia, por exemplo, o proponente deverá residir na Bahia; a empresa realizadora deverá estar instalada no estado por no mínimo dois anos; e 70% da equipe técnica deverá ser baiana. Ela cita o FAZCULTURA que exige que produtoras de fora tenham que articular co-produções com produtoras do mercado baiano.

Solange afirma que é contra ao estabelecimento de cotas do Governo Federal. É a favor do fomento de mercado com uma concorrência de “igual para igual”, ou seja, que os investimentos federais sejam proporcionais.A cineasta falou ainda sobre o fomento do cinema no interior do estado e o papel da ABCV nesse processo. Ela citou as cidades de Vitória da Conquista, com o Projeto “Janela Indiscreta”, em parceria com a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; cursos sendo fornecidos na cidade de Cachoeira, visando a capacitação técnica para o mercado cinematográfico; Ilhéus, com incentivo a formação de um público de cinema.

Por Ugo Mello.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Musica Eletrônica e Tecnologia: reconfigurando a discotecagem

No texto “musica eletrônica e tecnologia: reconfigurando a discotecagem” a autora aborda questões relacionadas a musica eletrônica, tais como a utilização da tecnologia no processo de criação, o papel do dj e como se deu a sua reconfiguração no cenário musical e a relação entre musica eletrônica e cultura, levando em consideração o circuito de produção - circulação – consumo.
Para entender melhor o fenômeno, Simone Sá, resgata a historia da musica eletrônica, desde os primeiros dj’s a utilizarem a tecnologia como um meio de produção ( e não só de reprodução de conteúdo), passando pelo surgimento dos gêneros, house, acid-house e techno - que, pode-se chamar, marco inicial da disseminação da musica eletrônica – até os djs contemporâneos que se configuram como verdadeiros artistas, os quais não só criam suas músicas através de colagens e dos efeitos sonoros advindos dos aparelhos tecnológicos, como também, necessitam da sensibilidade necessária para “sentir” o ambiente no qual improvisa.
O movimento da musica eletrônica alcança o Brasil em meados dos anos 90, onde já pode ser reconhecida como um produto cultural legítimo, tendo em vista as mudanças que proporcionou no cenário musical, principalmente nos processos de produção, circulação e consumo. Através da ME, a produção passou a ser questionada do ponto de vista dos direitos autorais, já que fazia uso de samples de musicas antigas de outros autores na confecção de novos “tracks”. Além disso, outra questão, que diz respeito à circulação, veio à tona. Como se tratava de algo muito imediatista, e, portanto, o uso da improvisação era constante tornou-se difícil encaixar esse tipo de musica no padrão vigente de circulação de produtos da indústria fonográfica, o que por outro lado, concebe importância aos suportes fita e cd, na circulação desse gênero musical, fosse ela de maneira legal ou não. Na esfera do consumo prevalece a utilização das mídias de nicho, já que o importante é atingir ao publico certo, ou seja, as mídias massivas não têm tanta importância aqui.
O papel do dj mudou ao longo dos anos e isso também contribui para reconfigurá-lo nas esferas de produção, circulação e consumo. O profissional que antigamente era discriminado pela inutilidade de suas funções – geralmente alguém que conhecia muito de musica e tinha que colocar a disposição do publico os discos que conhecia - passou a fazer parte, com a utilização das tecnologias e por intervenções próprias, do processo de produção musical. Passou a ser valorizado pelo seu amplo conhecimento, pela maneira como utiliza determinados sons mecânicos e pela forma como manipula um toca-discos, por exemplo, evidenciando assim o seu estilo e sua nova função; a de editor, produtor e músico.
A autora sugere, então, um remetimento à discussão proposta por Bolter e Grusin em torno da noção de remedição, entendida aqui como a maneira como um meio se apropria de outro sem deixar de ser ele mesmo e sem descaracterizar os aspectos deste outro.
Desta maneira, sugere-se pensar na atividade dos dj’s como dialogo com as praticas anteriores de produção musical e como essas atividades são reconhecidas hoje em dia. Nesse caso, pensamos a remediação como caracterizada por duas lógicas: a da imediaticidade, na qual o individuo interage diretamente com o conteúdo do meio; e a da hipermediatização, na qual, os sons, ruídos e interferências provocados pela tecnologia são percebidos e , para além disso, são propositadamente evidenciados na música.
É no pós-guerra, com a ascensão do Rock’n Roll que, na musica começa-se a ver a relação entre essas duas lógicas, muito embora, ainda haja um forte determinismo da imediaticidade até mesmo no trabalho dos dj’s que, às vezes, à procura de um estilo único e de som perfeito, acabam caindo nessa perspectivas.
No entanto são esses profissionais que deslocam a noção de aura no campo musical, à medida em=quem nos tornam conscientes do processo de internalização sofrido pela musica através de aparelhos tecnológicos ao longo da historia. São eles que ampliam a experiência musical contemporânea, consolidando a noção conceitual de autoria, na qual o autor é agente que seleciona, organiza, recombina, a partir de ready-mordes, e utiliza o estúdio como laboratório de suas experimentações musicais.

Musica Eletrônica e Tecnologia: reconfigurando a discotecagem

No texto “musica eletrônica e tecnologia: reconfigurando a discotecagem” a autora aborda questões relacionadas a musica eletrônica, tais como a utilização da tecnologia no processo de criação, o papel do dj e como se deu a sua reconfiguração no cenário musical e a relação entre musica eletrônica e cultura, levando em consideração o circuito de produção - circulação – consumo.
Para entender melhor o fenômeno, Simone Sá, resgata a historia da musica eletrônica, desde os primeiros dj’s a utilizarem a tecnologia como um meio de produção ( e não só de reprodução de conteúdo), passando pelo surgimento dos gêneros, house, acid-house e techno - que, pode-se chamar, marco inicial da disseminação da musica eletrônica – até os djs contemporâneos que se configuram como verdadeiros artistas, os quais não só criam suas músicas através de colagens e dos efeitos sonoros advindos dos aparelhos tecnológicos, como também, necessitam da sensibilidade necessária para “sentir” o ambiente no qual improvisa.
O movimento da musica eletrônica alcança o Brasil em meados dos anos 90, onde já pode ser reconhecida como um produto cultural legítimo, tendo em vista as mudanças que proporcionou no cenário musical, principalmente nos processos de produção, circulação e consumo. Através da ME, a produção passou a ser questionada do ponto de vista dos direitos autorais, já que fazia uso de samples de musicas antigas de outros autores na confecção de novos “tracks”. Além disso, outra questão, que diz respeito à circulação, veio à tona. Como se tratava de algo muito imediatista, e, portanto, o uso da improvisação era constante tornou-se difícil encaixar esse tipo de musica no padrão vigente de circulação de produtos da indústria fonográfica, o que por outro lado, concebe importância aos suportes fita e cd, na circulação desse gênero musical, fosse ela de maneira legal ou não. Na esfera do consumo prevalece a utilização das mídias de nicho, já que o importante é atingir ao publico certo, ou seja, as mídias massivas não têm tanta importância aqui.
O papel do dj mudou ao longo dos anos e isso também contribui para reconfigurá-lo nas esferas de produção, circulação e consumo. O profissional que antigamente era discriminado pela inutilidade de suas funções – geralmente alguém que conhecia muito de musica e tinha que colocar a disposição do publico os discos que conhecia - passou a fazer parte, com a utilização das tecnologias e por intervenções próprias, do processo de produção musical. Passou a ser valorizado pelo seu amplo conhecimento, pela maneira como utiliza determinados sons mecânicos e pela forma como manipula um toca-discos, por exemplo, evidenciando assim o seu estilo e sua nova função; a de editor, produtor e músico.
A autora sugere, então, um remetimento à discussão proposta por Bolter e Grusin em torno da noção de remedição, entendida aqui como a maneira como um meio se apropria de outro sem deixar de ser ele mesmo e sem descaracterizar os aspectos deste outro.
Desta maneira, sugere-se pensar na atividade dos dj’s como dialogo com as praticas anteriores de produção musical e como essas atividades são reconhecidas hoje em dia. Nesse caso, pensamos a remediação como caracterizada por duas lógicas: a da imediaticidade, na qual o individuo interage diretamente com o conteúdo do meio; e a da hipermediatização, na qual, os sons, ruídos e interferências provocados pela tecnologia são percebidos e , para além disso, são propositadamente evidenciados na música.
É no pós-guerra, com a ascensão do Rock’n Roll que, na musica começa-se a ver a relação entre essas duas lógicas, muito embora, ainda haja um forte determinismo da imediaticidade até mesmo no trabalho dos dj’s que, às vezes, à procura de um estilo único e de som perfeito, acabam caindo nessa perspectivas.
No entanto são esses profissionais que deslocam a noção de aura no campo musical, à medida em=quem nos tornam conscientes do processo de internalização sofrido pela musica através de aparelhos tecnológicos ao longo da historia. São eles que ampliam a experiência musical contemporânea, consolidando a noção conceitual de autoria, na qual o autor é agente que seleciona, organiza, recombina, a partir de ready-mordes, e utiliza o estúdio como laboratório de suas experimentações musicais.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Encontro com Fátima Fróes no TGM










Fátima Fróes iniciou a apresentação do Gregório de Matos pelo lado de fora do teatro para dar uma visão histórica do local. Ao lado direito está o Cine Teatro Guarani, fundado em 1917, que se tornou a principal porta de entrada para as novidades culturais mundiais. Em 1982, após uma reforma, passou a se chamar Cine Glauber em homenagem a um dos mais importantes cineastas brasileiros. Também ao lado direito fica a antiga sede do Jornal A Tarde e ao lado esquerdo a Igreja da Barroquinha.
Atualmente o Cine Glauber e a Igreja da Barroquinha passam por reformas e passarão a integrar novamente os equipamentos culturais de Salvador em funcionamento. O Cine Glauber desativado desde 1998 acomodará o Unibanco Arteplex Glauber Rocha com salas que combinam o conforto e qualidade tecnológica do sistema multiplex a uma programação voltada principalmente para o cinema alternativo e de arte e depois de 23 anos em ruínas causadas por um incêndio em março de 1983, a Igreja da Barroquinha será transformada no Centro Cultural da Barroquinha que será um espaço para exposições, apresentações de teatro, dança e música. A reforma, conduzida pela Gerência de Sítios Históricos da Fundação Gregório de Matos é patrocinada pela Petrobrás que através da Lei Rouanet investiu R$ 4,5 milhões.

Após a conclusão das obras do Espaço Cultural da Barroquinha, o Teatro Gregório de Matos também deve passar por reforma, pois as arquibancadas estão sem rodas e as cadeiras não são adequadas, dentre outras melhorias. A previsão é que as obras do Cine Glauber sejam concluídas em maio e as do Centro Cultural da Barroquinha em Julho, mas Fátima Fróes acredita que só estarão prontas em julho e dezembro respectivamente. Também está prevista a reforma da antiga sede do jornal A Tarde que abrigará um hotel.

O teatro, construído em 1986, foi idealizado pela arquiteta Lina Bo Bardi e ocupa o prédio do histórico cassino Tabaris na praça Castro Alves. Apresenta uma proposta inovadora, pois não possui palco fixo. A sua escada e janela são consideradas obras de arte e durante todo o ano turistas vão ao teatro apenas para fotografá-las. No foyer, funciona a galeria da Cidade, um espaço amplo para exposições e performances artísticas. No início, o prédio também era a sede administrativa da fundação Gregório de Matos que posteriormente foi transferida para um outro local.

Com as reformas e iniciativas Fátima acredita que o local se torne menos perigoso. Atualmente verifica-se um alto nível de criminalidade no local, além da grande quantidade de mendigos. No momento, para a realização de espetáculos, a direção do teatro solicita reforço extra da polícia militar no local e busca uma melhor iluminação. Ao lado do teatro fica o Beco do Mijo, onde o teatro faz algumas intervenções na tentativa de mudar o aspecto do local onde ao fundo ficam algumas residências. Outro problema da região é falta de linhas de ônibus, o que acaba prejudicando àqueles que não possuem carro.

Mesmo sobre essas circunstâncias a peça atualmente em cartaz, Barrela1, está tendo um público que varia entre 80 a 100 espectadores, o que é considerado um bom público para a capacidade do equipamento.

O teatro é muito apreciado para a realização de espetáculos de dança, mas não só abriga esse tipo de espetáculo. Hoje a Fundação é responsável e parceira de inúmeros projetos como o Pontão Cultural2 , Rede Brasil, espia Salvador, Viva Capoeira, site http://www.avisala.salvador.ba.gov.br/ , centro de estudos Sofia, dentre outros. Atualmente, em parceria com o professor Serafim, ministra cursos de documentários para alunos de comunidades carentes que tenham entre 16 e 29 anos. Os equipamentos foram adquiridos através de leis de incentivo do Governo Federal para o Áudio Visual e têm como objetivo cuidar da memória de cada bairro. Também está sendo estudada uma parceria com a escola de arquitetura para um projeto chamado Estudo em Cena, que visa discutir os equipamentos culturais de salvador, pois verifica-se alguns erros de estrutura de alguns teatros da cidade.

Dentre os projetos do Gregório para o próximo ano, está uma participação mais efetiva no carnaval. Em 2007, foi montado na praça Castro Alves o palco do Hip Hop + música eletrônica visando diversificar a cena musical de salvador nesse período. O projeto, sob a coordenação da fundação Gregório de Matos, teve DJ’s, grafitte e dançarinos de break de onze bairros da cidade.

Ao fim da visita, fomos as obras do Centro Cultural da Barroquinha, o que nos deu uma visão sobre a importância do local, que foi vizinho do terreiro de mãe Yiá Nassô, que deu origem aos três principais terreiros de candomblé da nação Ketu - Gantois, Casa Branca e Ilê Axé Opô Afonjá.

1 Barrela foi o primeiro texto escrito pelo polêmico autor de teatro Plínio Marcos, já falecido. A peça retrata a situação do sistema penitenciário do Brasil, levando o público a refletir sobre problemas tão atuais, apesar do texto ter sido escrito em 1958.
2 Com o nome de Escola-Rede Municipal de Cultura, o Pontão tem o objetivo de reunir e valorizar as diversas manifestações e linguagens culturais de Salvador.
A proposta abrange três iniciativas na área cultural da capital baiana. Uma delas é o lançamento de edital que contempla 20 projetos culturais ligados aos segmentos de Informática e de Audiovisual em bairros de Salvador. Outro produto do Pontão é a publicação da revista Cultura no Ponto, que divulga e fortalece a rede de Pontos de Cultura de Salvador. A revista tem 70 páginas, tiragem mensal e será distribuída gratuitamente em escolas e bibliotecas. Sua primeira edição marca a produção cultural dos bairros de Águas Claras, Engomadeira e Vila Canária. Produzida pelas lideranças comunitárias e editorada pela FGM, a publicação se concentra em quatro focos temáticos, divididos por artigos de acadêmicos de referência.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Resenha: Atores Sociais do Mercado da Cultura

NUSSBAUMER, Gisele Marchiori. Atores Sociais do Mercado da Cultura. In: O Mercado da Cultura em Tempos (Pós) Modernos. Santa Maria: Editora da UFSM,2000.

Diversos atores compõem a cena do Mercado da Cultura, dentre eles Gisele Nussbaumer destaca os artistas, os agentes culturais, os patrocinadores, a mídia, o público. Buscando traçar um perfil desses atores sociais são desenvolvidas ao longo do texto reflexões a respeito de como se formou e se estabelece o cenário cultural brasileiro.

Artistas: nem apocalípticos, nem integrados
Mudanças socioeconômicas ocorridas no Brasil a partir dos anos sessenta impulsionaram o proceso de autonomização da produção intelectual e artística. Se por um lado os artistas "alimentaram um mercado da cultura", do outro desenvolveu-se uma mentalidade crítica e conscientizadora que se impõe à mercantilização da cultura.
Diante desse quadro, os artistas precisam se adaptar a demanda de um mercado onde há uma relação de dependências que determina quem terá acesso e em que condições se dará a produção e divulgação da cultura. Para o artista, o reconhecimento e a utilização de seu poder simbólico devem ser fundamentais às relações com o mercado da cultura.
De acordo com Nussbaumer, através do poder simbólico de suas atitudes e obras, gerações de artistas e intelectuais, transformaram o cenário cultural de nosso país. Como exemplo, ela cita movimentos como a Tropicália e o Cinema Novo (60), o contracultural (70) e os punks e o rock nacional (80). Através de movimentos de "gerações em transe" demonstra-se que é possível resistir e contestar aos moldes da sociedade e promover uma reestruturação da produção cultural do país.

Agentes: intermediários da cultura
É dentro dessa lógica onde o artista tem dificuldades em negociar com o mercado da culçtura que surgem e ganham espaço os agentes culturais. Sgundo Nussbaumer, os agentes culturais têm "a função de atuar como intermediários entre artistas, financiadores, mídia e, consequentemente, público consumidor de bens e produtos culturais" e devido ao investimento em cultura na contemporaneidade ser vista de forma mais explícita como negócio exige-se uma profissionalização desse agente.
São inúmeros os profissionais que vêm colocando seus serviços no mercado para atender tanto aos artistas como às empresas que investem em patrocínio e projetos culturais próprios. A autora destaca a figura dos marchands de arte (uma categoria já institucionalizada no mercado da cultura que além de administrar e manter sua própria clientela, confere valor honorífico a cada autor e os preços de mercado de sua obra); os profissionais de relações públicas que atuam como agentes culturais da iniciativa privada buscando incentivar o patrocínio de projetos culturais visando o retorno da imagem para a empresa (marketing cultural). Essas duas áreas de atuação são alvo de reflexão, os marchands por se preocuparem mais com os lucros do que com a arte em si e, os relações públicas pela necessidade de busca de ações relevantes a favor da cultura o que exige uma ação continuada de investimento no setor, com intenções claras e projetos concretos.

Patrocinadores: cultura traz prestígio
Como um instrumento de comunicação diferenciado e convincente, o marketing cultural é um investimento que não traz lucros diretos e imediatos, oretorno para a iniciativa privada é confirmado e reforçado pela mídia em termos de melhoria de imagem ou até mesmo na promoção direta dos produtos da empresa.
Para Nussbaumer, !seja com apoio, patrocínio ou projetos próprios, o investimento no setor das artes e da cultural já faz parte do planejamento de comunicação da iniciativa privada, tornou-se uma forma simpática de atrair a atenção dos consumidores e público em geral.". Ela destaca ainda que os projetos culturais são considerados a melhor forma de investimento em cultura, várias empresas têm utilizado esse instrumento para criar vínculo entre a marca do produto e um evento dirigido ao público deste produto.

Mídia: meio ou fim
A mídia atua no mercado da cultura como determinante para o consumo ou não de um produto cultural pelo grande público. Seu poder de influência, como afirma Gisele Nussbaumer, "pode ser responsável pelo sucesso ou não de determinado produto cultural ao lhe acenar (ou não) com a possibilidade de seu conhecimento e reconhecimento pelo público". Assim, para os artistas além de obter espaço na mídia é importante também a boa aceitação de sua obra pela crítica especializada.
A necessidade e a impotância de obtenção de espaço na mídia e/ou respaldo da crítica leva-nos, segundo a autora, a discussão da função da crítica tanto sob o ponto de vista de sua competência quanto do seu poder ou autoridade no mercado cultural.

Um olhar para a cultura do município


Na sexta-feira, dia 9 de março, os alunos da disciplina receberam Edvaldo Bolagi, assessor da Fundação Gregório de Mattos e administrador da Casa do Bebin para entender a Política Cultural do Município.

Bolagi relatou a situação de abandono encontrada quando assumiram a Fundação Gregório de Mattos. Não haviam registros sobre as ações passadas e equipamentos como Biblioteca Edgard Santos, Biblioteca do Curuzu, o Teatro Gregório de Mattos e a Casa do Benin estavam fechados ou em estágio de má conservação.

Por essa falta de histórico, o primeiro ano serviu para elaboração das diretrizes que seriam adotadas para a área cultural do município. Tendo a Secretaria Municipal de Educação e Cultura voltada principalmente para as ações da educação, a Fundação Gregório de Mattos acaba por assumir as atividades de fomento à cultura.

Com início do 3° ano da gestão de Paulo Lima à frente da Fundação, as políticas culturais dessa instituição aparecem muito claramente. Uma preocupação em capilarizar as ações na cidade através da busca de significativos representantes da cultura popular. “Existem mestres responsáveis por ações culturais na cidade dos quais nem temos conhecimento”, aponta Bolagi. Dar visibilidade e reconhecimento a esses homens e mulheres responsáveis pela formação cultural de milhares de jovens é o objetivo do projeto “Mestres populares da cultura”. 7 projetos já foram contemplados e agora mais 9 bairros entram para a lista dos que receberão R$ 30 mil reais para fomentar as ações de homenagem a seus mestres.

A Fundação conta ainda com o projeto Pontão de Cultura, que integra o Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura. O Pontão é o espaço de articulação entre os Pontos de Cultura, visa agregar agentes culturais para articular e impulsionar um conjunto de atividades em suas respectivas comunidades.

Devido a eterna falta de verba suficiente para a área cultural e a atual crise financeira enfrentada pela Prefeitura Municipal, a Fundação buscou financiamentos externos e parcerias como essa entre o MinC. Com a mudança de governo estadual, a Fundação vislumbra parcerias e ações conjuntas entre a União, o Estado e o Município.

Seguindo o princípio de irradiação da ação cultural municipal, que norteia os projetos da Fundação, foi criado o site Avisa Lá, onde é divulgada as ações culturais dos bairros, são coletados dados sobre a memória das comunidades e pretende articular os diferentes atores culturais do município.

O lançamento do site ocorreu dentro das diversas ações da Agenda Viva Salvador, comemorando os 458 da cidade.

domingo, 25 de março de 2007

Políticas públicas de cultura – uma abordagem transversal

No texto Políticas públicas de cultura – uma abordagem transversal, de Ana Carla Fonseca Reis, verificamos os principais objetivos atribuídos à política pública de cultura, contemplando suas questões econômicas e simbólicas.
O conceito de política cultural foi introduzido pela Unesco em 1969 após propor aos governos o reconhecimento explícito das ações culturais como intrínsecas às suas políticas públicas. De acordo com o Dicionário Crítico de Política Cultural de Teixeira Coelho, política cultural é definida como “um programa de intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis, entidades privadas ou grupo comunitários com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da população e promover o desenvolvimento de suas representações simbólicas. Apresenta-se como um conjunto de iniciativas tomadas por estes agentes, visando promover a produção, a distribuição e o uso da cultura, a preservação e a divulgação do patrimônio histórico e o ordenamento do aparelho burocrático por elas responsável”.
Política pública de cultura deixa de ser sinônimo de política governamental, ultrapassando os limites da pasta de cultura do governo, envolvendo o setor privado e a sociedade civil (terceiro setor, universidades, centros de debate), combinando as perspectivas de diferentes atores sociais.
Os objetivos dessas políticas podem apresentar características como, por exemplo, a formação de uma identidade regional ou nacional; a promoção da diversidade cultural e da democracia de acesso cultural; o potencial da cultura como fator de inclusão socioeconômica, de atração do turismo, do fomento ao fluxo de informações e a construção da consciência individual, etc.
Mas antes mesmo de aprofundarmos em cada um destes objetivos, reforçaremos um outro conceito importante, o de transversalidade da cultura. Esse conceito remete à onipresença da cultura na integração das políticas públicas, requisito básico à promoção do desenvolvimento sustentável. O primeiro passo para o reconhecimento dessa transversalidade exige a conscientização do próprio setor cultural, para que se possa então promover sua incorporação na pauta de prioridades das outras pastas governamentais. Para o Ministro da Cultura, Giberto Gil, “a tarefa do MinC é formular e executar políticas públicas de cultura, articuladas e democráticas, que promovam a inclusão social e o desenvolvimento econômico e consagrem a pluralidade que nos singulariza entre as nações e que singulariza, na nação, as comunidades que a compõem”.

OBJETIVOS DE POLÍTICA PÚBLICA

Analisaremos os objetivos da política cultural mais freqüentes e relevantes: diversidade cultural; democracia cultural e inclusão; cultura e identidades; regeneração geográfica e qualidade de vida; cultura e imagem nacional. Observaremos a interdependência de cada um deles com outras políticas públicas, como a econômica, social, educacional, do turismo e das relações exteriores.

1. DIVERSIDADE CULTURAL

“Nenhuma cultura poderá viver se tentar ser exclusiva” (Mohandas Gandhi)

. O conceito de diversidade cultural como o entendemos hoje parece ter suas origens na crítica do monopólio da mídia, após a segunda guerra mundial. No que concerne o delineamento da política cultural, a diversidade deve ser considerada em dois eixos:
- nacionalmente, defendendo a coexistência das diferentes culturas de um mesmo país e promovendo sua sustentabilidade;
- internacionalmente, preservando a cultura nacional diante da ameaça de uma hegemonia cultural global e capacitando-a para participar de fluxos de idéias e comércio de produtos e serviços culturais mundiais.

1.1 DIVERSIDADE CULTURAL NACIONAL

. No Brasil, embora não tenhamos divergências sociais, religiosas ou étnicas e estejamos unidos por uma mesma língua e um substrato cultural comum, somos fruto e adaptação de uma rica combinação de culturas. Essas raízes profundas contribuíram para a criação de um imenso repertório de manifestações, produtos e serviços culturais, distintos entre si, mas igualmente brasileiros.
. Um dos grandes desafios da diversidade cultural nacional é garantir o acesso ao mercado também às nossas minorias, possibilitando sua difusão e sustentabilidade econômica, além de sua interação social com as outras culturas nacionais, sem prejuízo de sua identidade.
. Definir a diversidade como objeto de política cultural significa promover ao mesmo patamar de relevância o forró e a música de câmara, o tacacá e o churrasco, o artesanato de feirinha do bairro e o que se encontra nos centros comerciais refinados. Nossa identidade é essencialmente plural.
. Somando-se à preservação da diversidade estão à garantia de liberdade de expressão e a capacidade de transformar essa expressão em um produto acessível aos outros.
. A questão crucial vai mais além da existência de diversidade de expressões comerciais e exige que sejam criados espaços também para os produtos não comercializáveis.

1.2 DIVERSIDADE CULTURAL EM UM CONTEXTO INTERNACIONAL

. O Relatório do Desenvolvimento Humano de 2004 da Unesco expõem que é possível a coexistência entre unidade e diversidade. Para isso, é preciso que os paises assumam ativamente seu papel de guardiões e promotores da cultura ou das culturas nacionais.
. É fácil visualizar a necessidade dos produtos e serviços culturais com alto apelo comercial. A situação é bem diferente e bem mais delicada e intangível quando se trata de respeitar e reconhecer os direitos morais e financeiros dos mestres de ofícios e de comunidades tradicionais.
. Sem uma política que envolva os aspectos econômico, social e de desenvolvimento, a diversidade dissipa-se rapidamente, sob o metralhar dos orçamentos vultosos que atingem o comércio internacional de serviços e produtos culturais.

2. DEMOCRACIA CULTURAL E INCLUSAO

. Enquanto a democratização não questionava a cultura erudita, mas somente a desigualdade de sua repartição, a democracia cultural contesta a prevalência da cultura dita de elite.
. Diversidade e democracia cultural são conceitos complementares. Enquanto a diversidade defende a possibilidade de criação e expressão das mais diversas culturas em pé de igualdade, a democracia cultural prega que todos têm o direito de acesso às mais diversas manifestações culturais. A diversidade cultural contempla a existência de uma pluralidade de culturas, em oposição a uma cultura monolítica; a democracia cultural pressupõe a existência de não apenas um, mas vários públicos – permitir-lhes conhecer todo o repertório possível, e com isso, ampliar suas opções de escolha.

2.1INCLUSAO DIGITAL

. Um dos maiores canais d acesso às manifestações culturais são as mídias digitais. As novas mídias são grandes facilitadoras, enquanto abrem novas formas de acesso à produção e aos mercados.
. A necessidade de reduzir o abismo de exclusão digital não é exclusiva de países em desenvolvimento, embora seja mais acentuada neste grupo.
. No Brasil, a Pesquisa Internet POP, realizada pelo Ibope Mídia publicada em 2005 registrou um aumento no uso da Internet pelas classes D e E (de 7% computados no ano anterior para 11%). Esse percentual é ainda assustadoramente baixo, mas algumas medidas importantes permitiriam impulsionar seu crescimento. Uma das principais é acelerar a política de franquear acesso à Internet na escola, nas instituições públicas e nos Pontos de Cultura. Outra seria o barateamento dos computadores habilitados para conexão com Internet, por exemplo.
. É importante considerar, ainda, o papel potencial dos telefones celulares para promover a inclusão digital.

3. CULTURA E IDENTIDADES – A PERCEPÇAO DE SI MESMO E DO OUTRO


. A identidade é a base e a essência de quem somos. É aquilo que nos faz reconhecer a nós mesmos no espelho e através dos olhos dos outros.
. Conforme Eagleton, na medida em que se forma o Estado-Nação moderno, a estrutura de papéis tradicionais já não pode manter a sociedade unida, e é a cultura compartilhada através da linguagem, da herança, do sistema educacional, dos valores que forma a unidade social. O maior símbolo dessa identidade é a cultura.
. Uma das formas de reforçar a identidade nacional é traduzir a cultura em imagens, e fazer delas nossas embaixadoras é um modo de fazer-nos conhecer como somos, sem estereótipos marcados.
. Tão importante quanto reconhecer o direito à identidade é admitir a convivência de múltiplas identidades em cada um de nós.
. Um dos objetivos básicos da política cultural deve ser o de reforçar a identidade cultural, colocando em perspectiva as influências de outras culturas. Que se adicionem à nossa, sim; que tentem substituí-la, jamais.

4. REGENERAÇAO GEOGRÁFICA E QUALIDADE DE VIDA

. Um dos grandes pilares da política pública apresenta dupla face de regeneração geográfica e elevação da qualidade de vida da região. São vários os exemplos de investimento em cultura como agente recuperador, unindo os aspectos cultural, econômico e social e contribuindo com isso, para a vida comunitária e a solução dos problemas socioeconômicos.
. Nacionalmente, temos o exemplo do Programa Monumenta, que promove o desenvolvimento socioeconômico por meio da erradicação das causas da degeneração do patrimônio cultural de dezenas de cidades brasileiras. Gera-se com isso, um conjunto de benefícios que se apóiam e se reforçam.
. Com relação às economias locais, os efeitos positivos vão além da geração de impostos, empregos e cifras de comércio, compreendendo também a fixação da população, antes migradora por falta de escolha. O benefícios econômicos são insubstituíveis. Integral este rol: a elevação da auto-estima, o incremento da qualidade de vida, o reforço da coesão social, a consolidação das parcerias público-privadas e a afirmação da imagem local.

5. CULTURA E IMAGEM NACIONAL

. Brasil do carnaval, Buenos Aires do tango, Caribe da salsa e merengue. Poucas expressões de um povo transmitem uma imagem mais forte do que as veiculadas por sua cultura.
. A imagem de um país no exterior impacta não somente em como os cidadãos, produtos e serviços desse país são recebidos fora, mas também em sua capacidade para atrair investimentos e turistas de negócios e lazer. A imagem e os estereótipos que as empresas e turistas levam consigo direcionam o modo como se relacionam com o país receptor.
. A importância da imagem do país e os fatores que influenciam são expressos pelo National Brand Index. Os fatores de construção do índice de um país são as percepções das pessoas acerca de seus ativos culturais, políticos, comerciais e humanos. No caso do Brasil, os dois maiores fatores de atração do país residem, segundo a pesquisa, em “pessoas” e “cultura e patrimônio”.

5.1 DIPLOMACIA CULTURAL

. O conceito de diplomacia cultural tem como princípio a troca de informações e manifestações culturais entre países e povos, buscando promover a compreensão mútua e a construção da imagem das nações em função do que lhes interessa comunicar. Também ode ser considerado um eficaz instrumento complementar à estratégia econômica.
. Vários países passaram a utilizar a diplomacia cultural para promover seus produtos comerciais, abrir e desenvolver mercados e fomentar exportações e negociações em termos privilegiados.
. No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores tem dado mostras pontuais de integração entre os esforços de diplomacia cultural e estratégia comercial do país, a exemplo de sua participação no Ano do Brasil na França, em 2005, e na Copa da Cultura na Alemanha, em 2006.
. A busca por uma maior integração entre política cultural e relações exteriores, envolvendo também outras instituições governamentais e privadas, produziu na mesma feita o anuncio de novos programas voltados à divulgação e exportação de produtos culturais nas áreas de cinema, televisão e música.

5.2 ORGANIZAÇOES CULTURAIS NO EXTERIOR

. Paralelamente aos esforços do corpo diplomático, vários países investem em organizações que buscam promover relações culturais no exterior, frequentemente estendendo-se ao ensino da língua do país de origem. Dentre elas destacam-se o Goethe Institut, o British Council e a Alliance Française.
. A magnitude dos recursos direcionados a programas e instituições culturais no exterior revela a prioridade que lhes é dada. Por exemplo, os 43 Institutos Cervantes (cultura Espanhola) receberam em 2004 um orçamento de 60 milhões de euros; já a França investe mais de 1 bilhão de euros anualmente em um conjunto de atividades diplomáticas, distribuídas entre cerca de 650 embaixadas, consulados, representações diplomáticas e 166 centros culturais. Além disso, oferece apoio financeiro às cerca de oitocentas Alliances Françaises atuantes em mais de 130 países.